Folha de S.Paulo

‘Erva virou símbolo da ganância’, diz xerife

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DA ENVIADA A EUREKA, CALIFÓRNIA (EUA)

O americano William F. Honsal, 44, cresceu no condado de Humboldt e viu a região famosa pelas florestas passar por diversas mudanças até virar um dos maiores produtores de maconha do mundo.

Neste ano, virou xerife interino do condado e patrulha uma área na qual se estima que existam mais de 20 mil núcleos de plantações de cannabis, sendo apenas 1% legalizado e outros 5% em processo de obter licenças.

Honsal, que foi policial por 22 anos, acredita no poder medicinal da planta e está otimista com a legalizaçã­o na Califórnia a partir de janeiro.

No entanto, teme pela economia da região. Outros desafios são o crime organizado e uma alta taxa de homicídios relacionad­os a negócios da droga, cujo valor vem diminuindo bastante com o aumento da oferta de mercado —meio quilo chegou a custar US$ 3.000 (R$ 9.800) e hoje vale menos de US$ 1.000.

Em seu escritório em Eureka, Honsal contou à Folha como a maconha faz parte da cultura de Humboldt desde anos 1960, com a chegada dos hippies. Hoje, porém, ele acredita que a droga virou um símbolo de ganância. (FE) Folha - Quais são seus desafios nestes meses pré-legalizaçã­o?

William F. Honsal - Ainda existe um mercado negro muito ativo, que não apenas vende droga ilegalment­e mas também usa métodos de plantação que prejudicam o ambiente. Seus efeitos serão duradouros. Eles usam pesticidas que entram no solo e contaminam

WILLIAM F. HONSAL

xerife do condado de Humboldt toda uma cadeia de alimentaçã­o. Quem vai caçar não pode aproveitar seu veado porque a carne está contaminad­a. Temos invernos de chuvas fortes e a água puxa estes pesticidas para os rios. A população de peixes está lutando para sobreviver. É uma indústria muito gananciosa, muito. Como é feito o combate ao mercado ilegal?

Fazem parte cinco ou seis agências regulatóri­as que cuidam de violações ambientais, uso ilegal de terras, desvio de água, prédios irregulare­s.

Se a pessoa planta maconha ilegalment­e, provavelme­nte também desvia água, desmata floresta. São milhões de dólares em multas que ela pode levar, assim como acusações criminais. É um dinheiro que pode nos ajudar no combate. Atingimos apenas 1% do problema, mas olhamos para outros jeitos. há anos. E dissemos ao dono: “pode continuar com seu negócio ilegal até acertar suas contas com a lei”. Não faz o menor sentido, mas é como a Califórnia está lidando com a maconha. E ainda assim não estão levando a sério. Quais os efeitos na sociedade com os avanços na legalizaçã­o da droga nas últimas décadas?

Vimos uma grande mudança. Antes era uma cultura hippie. Pessoas vieram para cá nos anos 1960, de San Francisco, para começar pequenos cultivos de maconha, nunca foi algo ganancioso. Mas eles tiveram filhos, e os filhos tiveram filhos, e virou uma grande indústria gananciosa.

O condado se beneficiad­omercado negro, mas é uma falsa economia. Muitos negócios foram construído­s para sustentar a maconha ilegal. Quando isso acabar, a economia vai sentir

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