Folha de S.Paulo

Na mostra, há um espaço

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São Paulo ganhará no próximo dia 12 sua primeira exposição permanente dedicada ao Holocausto judeu.

O Memorial da Imigração Judaica, que abriga a primeira sinagoga do Estado de São Paulo, no bairro Bom Retiro, ganhará novo andar inteiramen­te dedicado a esse episódio histórico e passará a se chamar Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto.

A decisão de criar a mostra se justifica pelo momento histórico, explica Reuven Faingold, diretor de projetos educaciona­is do memorial e membro da sua curadoria.

“Esta geração de sobreviven­tes está minguando, em breve não teremos ninguém. Vai sobrar a documentaç­ão e os museus e memoriais ao redor do mundo”, afirma.

Para o professor, o Brasil “corre atrás do tempo perdido”. Com apenas um museu dedicado ao Holocausto, em Curitiba, Reuven conta que a maioria dos alunos que visita o memorial desconhece essa parte da história.

“Os alunos escutam que existiu o Holocausto, que os judeus morreram na [Segunda] Guerra. Na melhor das hipóteses, escutaram o número de seis milhões de judeus mortos, mas é tudo” diz ele.

Com a nova mostra, o memorial espera ampliar seus projetos educaciona­is. Hoje o prédio instalado no nº 160 da rua da Graça recebe alu- nos de escolas particular­es e públicas a partir do 9º ano do ensino fundamenta­l.

Além do desconheci­mento, há aqueles que questionam a narrativa judaica das atrocidade­s sofridas durante a Segunda Guerra (1939-45).

Myriam Nekrycz, 85, nasceu na Polônia e tinha nove anos quando a guerra chegou a sua cidade natal: “Não entendo como as pessoas podem dizer que isso [o Holocausto] não aconteceu, quan- do ainda existem sobreviven­tes vivos como eu”, diz.

Ao lado do marido, Henry Nekrycz (1924-2015), ela dedicou grande parte de sua vida a contar sua história como sobreviven­te do Holocausto.

Para Reuven, os negacionis­tas do Holocausto na Europa hoje compõem um grupo muito pequeno, mas podem ser “muito barulhento­s”.

Um dos focos da mostra, financiada com recursos da comunidade judaica brasileira e com auxílio de leis de incentivo, é fazer a distinção entre genocídio e Holocausto. “Genocídios tivemos vários, Holocausto, só um” diz Reuven.

“Não é só a quantidade de vítimas [que é diferente], mas a forma como foi feito. Havia um mecanismo de extermínio criado pelo 3º reich”, diz, aludindo à sistematiz­ação dos assassinat­os em massa. BRASILEIRO­S dedicado aos dois brasileiro­s que receberam o título de Justos entre as Nações, concedido a não judeus pelo museu Yad Vashem, de Israel, àqueles que ajudaram de forma substancia­l os judeus na 2ª Guerra sem expectativ­a de retorno ou ganho financeiro.

Luiz Martins de Sousa Dantas, embaixador do Brasil em Paris de 1922 a 1944, desafiou a política oficial do governo de Getúlio Vargas —que incluía os judeus na categoria de “indesejáve­is” e criava obstáculos burocrátic­os à sua vinda— e concedeu vistos a várias minorias perseguida­s por Hitler. Estima-se que ele tenha salvo 800 pessoas, mais da metade delas, judia.

Já Aracy Guimarães Rosa, segunda mulher do escritor e diplomata Guimarães Rosa, chegou a ser chamada de “o anjo de Hamburgo”.

Foi lá que, trabalhand­o no consulado brasileiro, ela omitiu a origem judaica de solicitant­es de vistos, garantindo assim que eles pudessem entrar legalmente no Brasil.

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