Ação antiassédio chega à política europeia
Casos emergem no Parlamento Europeu; ministros no Reino Unido, além de deputado austríaco, renunciam
A campanha global condenando o assédio sexual, desencadeada por denúncias contra o produtor americano de cinema Harvey Weinstein e intensificadas nesta semana pelas acusações contra o ator Kevin Spacey, se alastrou também pelos centros políticos da União Europeia.
Casos no Parlamento Europeu e nos governos britânico e Austríaco vieram à tona, motivaram debates públicos e, no Reino Unido, levaram à queda de dois ministros.
“Pode ser fugir a lógica à primeira vista que haja tanto assédio no Parlamento Europeu, já que deveríamos servir de modelo à sociedade”, diz à Folha a eurodeputada alemã Terry Reintke. “Mas esses casos, como os de Hollywood, estão relacionados: o Parlamento é um local que concentra o poder, e permite a construção desses sistemas de abuso”, afirma.
Assistentes, por exemplo, temem denunciar o assédio cometido por superiores com medo de perder o emprego, diz Reintke. “Parte das vítimas prefere não fazer denúncias formais, e precisamos encorajá-las. É o abusador quem tem de ter vergonha.”
Reintke lidera o grupo de legisladores que recentemente conseguiu a aprovação de uma declaração condenando o assédio no Parlamento.
No plenário, deputados levantaram cartazes com os dizeres “Me Too” (eu também), se alinhando às multidões que compartilharam essa frase na internet, após as primeiras acusações a Weinstein.
Após o voto, Reintke criou uma segunda campanha para começar um treinamento obrigatório aos funcionários e evitar novos abusos.
Um dos obstáculos, no caso do Parlamento Europeu, é a imunidade parlamentar. Esse status desestimula investigações. “Mas queremos que a polícia local se envolva, e as imunidades podem ser canceladas”, diz Terry Reintke.
A eurodeputada diz que nunca foi vítima de assédio físico. Mas o fato de ser jovem —tem 30 anos— e mulher foi uma questão presente desde o início de sua carreira. “Ouço comentários sobre meu visual, sobre como sou jovem.”
“Essa é uma das razões pelas quais as mulheres não querem ir para a política. Elas sentem que estão sempre lutando contra alguma coisa.”
Iniciativas como a de Reintke, no entanto, já trouxeram algumas mudanças culturais.
Quando um grupo de legisladoras europeias enviou um e-mail buscando apoio à iniciativa contra o abuso, o eurodeputado britânico Ashley Fox pediu que as pessoas parassem de responder copiando os demais, sugerindo que aquilo se tratasse de “spam”.
A legisladora sueca Soroya Post respondeu: “É incrível que, em 2017, ainda possamos ver tamanhos exemplos de ‘mansplaining’.” “Mansplaining” é o nome dado ao hábito de interromper uma mulher para explicar-lhe algo que ela possivelmente já sabe. A palavra une o termo “man” (homem) a “explain” (explicar). QUEDAS As denúncias de abuso e assédio sexual também chegaram à política britânica e austríaca nesta semana.
No Reino Unido, o ministro da Defesa, Michael Fallon, renunciou após ser acusado de assédio por ter posto a mão no joelho de uma jornalista reiteradas vezes. Já o ministro do Comércio Exterior, Mark Garnier, teria pedido, quando deputado, que sua secretária lhe comprasse vibradores.
O ministro escocês da Infância, Mark McDonald, renunciou neste sábado (4) após admitir “comportamento inapropriado”.
Na Áustria, o deputado antissistema Peter Pilz renunciou após uma jovem o acusar de tê-la assediado em 2013.
acusação contra Harvey Weinstein, produtor, visa também políticos