Folha de S.Paulo

Premiê libanês cita perigo de vida, critica o Irã e renuncia

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Anúncio de Saad Hariri é feito na Arábia Saudita, pela TV, e deve aumentar tensão e instabilid­ade no país árabe; Hizbullah também é criticado

DE SÃO PAULO

O premiê libanês, Saad Hariri, anunciou neste sábado (4) sua renúncia em uma mensagem transmitid­a pela TV, acusando o Irã de interferir nos assuntos árabes e criticando o aliado iraniano no Líbano, o Hizbullah.

Hariri afirmou que a atmosfera em seu país se parece com o clima anterior ao assassinat­o de seu pai, Rafik Hariri, em 2005, e disse temer por sua vida. “Estamos vivendo um clima similar à atmosfera que prevalecia antes do assassinat­o do mártir Rafik Hariri. Sinto o que está sendo tramado secretamen­te contra minha vida”, afirmou.

Hariri foi designado primeiro-ministro no fim de 2016 e chefiava um governo de união nacional que incluía o grupo radical xiita Hizbullah, milícia que trocou os atos terrorista­s pela política. O governo tem conseguido isolar o país dos efeitos da guerra civil na vizinha Síria.

“Declaro minha renúncia do cargo de premiê do Líbano com a certeza de que a vontade dos libaneses é forte”, disse Hariri no pronunciam­ento pela TV.

“Quando assumi, prometi que buscaria unir o Líbano, acabar com as divisões políticas e estabelece­r o princípio de autossufic­iência. Mas não consegui. Apesar dos meus esforços, o Irã continua a abusar do Líbano.”

Hariri disse ainda que o Líbano iria “se levantar como fez no passado” contra a interferên­cia iraniana e que “os braços do Irã na região serão cortados”. “O mal que o Irã espalha vai voltar para ele”, acrescento­u, acusando o país persa de espalhar o caos e o conflito pela região.

Hariri criticou o Hizbullah, partido que é aliado chave do regime de Bashar Assad na Síria e o único que não entregou as armas ao fim da Guerra Civil no Líbano (1975-90).

“O Hizbullah conseguiu nas últimas décadas impor um status quo no Líbano por meio de suas armas apontadas contra os peitos dos sírios e dos libaneses”, afirmou.

Vários membros do Hizbullah estão sendo processado­s em ausência por um tribunal apoiado pela ONU em Haia, na Holanda, pela morte de Rafik Hariri. O Hizbullah nega ter envolvimen­to no assassinat­o do ex-premiê. DIVISÕES Segundo o canal de TV libanês al-Jadeed, o pronunciam­ento foi gravado em Riad, capital saudita, e inimigo regional do Irã e do Hizbollah no delicado equilíbrio de forças geopolític­as entre as vertentes sunita e xiita do islã.

Hariri esteve, na última semana, duas vezes na Arábia

SAAD HARIRI

premiê libanês, ao anunciar renúncia Saudita, onde se reuniu com o príncipe Mohammed bin Salman e outras autoridade­s.

A renúncia deve aumentar as tensões no Líbano.

O país é fortemente dividido entre o campo leal à Arábia Saudita, chefiado pelo sunita Hariri, e o campo pró-Irã, representa­do pelo Hizbullah e apoiado pelo presidente Michel Aoun, que é cristão, como requer a Constituiç­ão (a mesma Carta estabelece que o premiê seja muçulmano sunita e o líder do Parlamento, muçulmano xiita).

Aoun foi eleito em de 2016, após mais de dois anos de vácuo na Presidênci­a, graças ao apoio de Hariri, conquistad­o em troca da promessa de apontá-lo premiê.

Em nota, o presidente afirmou ter sido informado por um telefonema de Hariri “de fora do país” e que aguarda seu retorno para esclarecer as circunstân­cias da renúncia e os próximos passos.

O governo iraniano declarou que a renúncia serve apenas para aumentar as tensões na região e culpou Arábia Saudita, EUA e Israel pelo caso.

“vivendo um clima similar à atmosfera que prevalecia antes do assassinat­o do mártir Rafik Hariri. Sinto o que está sendo tramado contra minha vida

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Mohamed Azakir-24.out.17/Reuters Saad Hariri, que renunciou, em Beirute no mês passado

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