Folha de S.Paulo

Despesa com Previdênci­a nos Estados já é 41% da folha

Gasto com aposentado­rias e pensões foi de R$ 85 bi para R$ 141 bi na década

- ALEXA SALOMÃO Receita líquida

Números constam de estudo do Ipea que será divulgado nos próximos dias e consolida dados até agora dispersos

Os Estados enfrentam neste momento a herança inexorável dos tempos de gastança da última década: ter de lidar com um incontrolá­vel aumento de despesas com aposentado­rias e pensões.

O gasto com pessoal da ativa cresceu cerca de 50% entre 2006 e 2016, em valores ajustados, já consideran­do a inflação do período. Servidores na ativa ficam, na média, com R$ 202 bilhões da folha de pagamento. Os gastos com inativos, porém, aumentaram 66% —foram de R$ 85 bilhões para R$ 141 bilhões.

Os números são inéditos. Fazem parte de uma nota técnica do Ipea, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, que será divulgada nos próximo dias.

Na vida real da contabilid­ade pública estadual, não existe padrão. Cada Estado registra gastos com pessoal por um critério diferente. Muitos chegam a excluir o pagamento de auxílios, como o de moradia. Desde o ano passado, o Tesouro Nacional tem consolidad­o dados, na tentativa de torná-los comparávei­s.

Os pesquisado­res do Ipea reuniram diferentes fontes e fecharam um painel mais completo dos gastos com pessoal ativo e inativo no Executivo, Legislativ­o, Judiciário e também militares. FATIA MAIOR O economista Cláudio Hamilton dos Santos, que coordenou o estudo, destaca que os números quantifica­m o que se intuía: ano a ano, a Previdênci­a amplia a sua fatia no Orçamento estadual.

Em 2006, equivaliam a 38% da despesa com a folha. Em 2016, essa parcela havia subido para 41% —com tendência de alta, porque, diz ele, nada segura essa despesa. Nem a recessão.

Desde 2014, quando a economia começou a degringola­r, os Estados se esforçam para cortar gastos com pessoal. Até seguraram aumentos entre servidores ativos. A economia, em média, foi de 4,2%. Ocorre que as despesas com pensões e aposentado­rias aumentaram 6,5%.

Em reais, fica mais claro o que isso representa. Enquanto os Estados, na média, economizar­am R$ 8,8 bilhões com os ativos, gastaram a mais outros R$ 8,6 bilhões com os inativos. “No fim, o ajuste conseguido com os ativos foi praticamen­te anulado pelos inativos”, diz Santos.

O descompass­o entre ativos e inativos, ele explica, não é consequênc­ia apenas do envelhecim­ento natural da mão de obra. Em boa medida, foi ampliado pelos próprios governador­es.

“Os Estados gastaram como se não houvesse amanhã, concedendo reajustes que têm impacto nas aposentado­rias da maioria dos funcionári­os.”

Quem ingressou no serviço público até 19 de dezembro de 2003 tem dois direitos básicos ao se aposentar: integralid­ade (pendura as chuteiras recebendo o valor que ganhava na ativa) e paridade (já aposentado, ganha os mesmos reajustes conferidos ao servidor que ocupa cargo correlato na ativa).

“Uma parcela expressiva dos servidores na ativa ingressou no serviço público nos anos 1980 e vai se aposentar na próxima década com paridade e integralid­ade” diz Santos. Para contrabala­nçar o gasto crescente, os Estados, além de fazer a reforma da Previdênci­a, terão de encarar o dever de casa e serem mais eficientes. R$8,8bi foi a economia com gasto de ativos entre 2014-2016 Nos Estados onde a crise é maior, como Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais, a relação entre ativos e inativos já compromete a saúde financeira Minas Gerais R$8,6bi foi o aumento gasto com inativos entre 2014-2016 O resultado é que os Estados em situação mais complicada têm dificuldad­e de fazer o ajuste fiscal e cumprir as metas de superavit primário, economia para garantir o pagamento de dívidas RESULTADO PRIMÁRIO (R$ bilhões) Minas Gerais 4,2% é a queda em relação ao biênio Rio de Janeiro 6,5% é o aumento em relação ao biênio

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