Ayahuasca CONTRA O DESMATAMENTO
Em festival iauanauá, estrangeiros, índios e banco alemão de desenvolvimento —e seus milhões de euros— se juntam para fomentar uma estratégia de preservação da Amazônia
No terreiro da remota aldeia Nova Esperança, no Acre, índios iauanauá e visitantes de países como Reino Unido e Turquia se congregavam para tomar a ayahuasca na cerimônia de despedida do festival anual de quatro dias, encerrado na noite do último domingo (29).
Sob uma chuva fina, o cacique Biraci Brasil agradeceu a presença dos visitantes e falou da importância sagrada da ayahuasca. Em seguida, a substância alucinógeno passou a ser servida ao som de canções iauanauá. A dança e o consumo da bebida continuaram até o amanhecer.
O uso espiritual e medicinal da ayahuasca é uma tradição secular de várias etnias amazônicas. Mas, nos últimos anos, o festival iauanauá, palco também de rituais e brincadeiras tradicionais, vem ganhando uma ajuda inusual: parte dos custos da festa foi coberta pelo banco de desenvolvimento alemão KfW.
Os recursos chegam por meio de um programa batizado de REM (Redd para os Pioneiros, na sigla em inglês) que beneficia projetos de indígenas, extrativistas e pequenos produtores rurais relacionados à preservação da floresta.
O programa adota os parâmetros do Redd+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), mas não gera créditos de carbono para comercialização —tratase de um mecanismo de cooperação internacional.
Na primeira fase do projeto, o repasse do banco alemão ao governo estadual do Acre, de Tião Viana (PT), chegou a R$ 120 milhões em quatro anos. O pagamento é baseado em performance, com um teto de 434 km2 de desmatamento/ano em todo o Estado. Se ficar acima disso, não há “safra de carbono”, e portanto, não ocorre o desembolso.
Para a segunda fase, que será oficializada na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que ocorre em Bonn (Alemanha) a partir desta segunda-feira (6), o KfW aportará € 10 milhões (R$ 38,4 milhões). O Acre também está em negociações avançadas para que o governo britânico também contribua para o REM.
Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o Acre reduziu 34% do desmatamento entre agosto de 2016 e julho deste ano. Em área, o Estado perdeu 244 km2 no período, abaixo do texto estipulado no acordo o REM.
Em toda a Amazônia, a queda do desmatamento foi de 16% no período. O Acre foi o terceiro Estado que mais reduziu o desmatamento, atrás de Tocantins (55%) e Roraima (43%).
Além do Acre, o KfW financiará um programa semelhante do governo do Mato Grosso, de Pedro Taques (PSDB). O banco alemão dará € 16 milhões ao longo de quatro anos, em contrapartida a metas de redução de desmatamento.
“Só com dinheiro público, não dá pra combater o desmatamento”, afirma André Baby, secretário-executivo da Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso. “Essas parcerias internacionais