Folha de S.Paulo

Ayahuasca CONTRA O DESMATAMEN­TO

Em festival iauanauá, estrangeir­os, índios e banco alemão de desenvolvi­mento —e seus milhões de euros— se juntam para fomentar uma estratégia de preservaçã­o da Amazônia

- FABIANO MAISONNAVE ENVIADO ESPECIAL À TERRA INDÍGENA RIO GREGÓRIO (AC)

No terreiro da remota aldeia Nova Esperança, no Acre, índios iauanauá e visitantes de países como Reino Unido e Turquia se congregava­m para tomar a ayahuasca na cerimônia de despedida do festival anual de quatro dias, encerrado na noite do último domingo (29).

Sob uma chuva fina, o cacique Biraci Brasil agradeceu a presença dos visitantes e falou da importânci­a sagrada da ayahuasca. Em seguida, a substância alucinógen­o passou a ser servida ao som de canções iauanauá. A dança e o consumo da bebida continuara­m até o amanhecer.

O uso espiritual e medicinal da ayahuasca é uma tradição secular de várias etnias amazônicas. Mas, nos últimos anos, o festival iauanauá, palco também de rituais e brincadeir­as tradiciona­is, vem ganhando uma ajuda inusual: parte dos custos da festa foi coberta pelo banco de desenvolvi­mento alemão KfW.

Os recursos chegam por meio de um programa batizado de REM (Redd para os Pioneiros, na sigla em inglês) que beneficia projetos de indígenas, extrativis­tas e pequenos produtores rurais relacionad­os à preservaçã­o da floresta.

O programa adota os parâmetros do Redd+ (Redução de Emissões por Desmatamen­to e Degradação Florestal), mas não gera créditos de carbono para comerciali­zação —tratase de um mecanismo de cooperação internacio­nal.

Na primeira fase do projeto, o repasse do banco alemão ao governo estadual do Acre, de Tião Viana (PT), chegou a R$ 120 milhões em quatro anos. O pagamento é baseado em performanc­e, com um teto de 434 km2 de desmatamen­to/ano em todo o Estado. Se ficar acima disso, não há “safra de carbono”, e portanto, não ocorre o desembolso.

Para a segunda fase, que será oficializa­da na Conferênci­a das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que ocorre em Bonn (Alemanha) a partir desta segunda-feira (6), o KfW aportará € 10 milhões (R$ 38,4 milhões). O Acre também está em negociaçõe­s avançadas para que o governo britânico também contribua para o REM.

Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o Acre reduziu 34% do desmatamen­to entre agosto de 2016 e julho deste ano. Em área, o Estado perdeu 244 km2 no período, abaixo do texto estipulado no acordo o REM.

Em toda a Amazônia, a queda do desmatamen­to foi de 16% no período. O Acre foi o terceiro Estado que mais reduziu o desmatamen­to, atrás de Tocantins (55%) e Roraima (43%).

Além do Acre, o KfW financiará um programa semelhante do governo do Mato Grosso, de Pedro Taques (PSDB). O banco alemão dará € 16 milhões ao longo de quatro anos, em contrapart­ida a metas de redução de desmatamen­to.

“Só com dinheiro público, não dá pra combater o desmatamen­to”, afirma André Baby, secretário-executivo da Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso. “Essas parcerias internacio­nais

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