Folha de S.Paulo

Dor. Poxa, se não tivesse feito isso, a vida da gente poderia ter sido outra.

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Lilia Cabral teve que enfrentar o pai para realizar o desejo de ser atriz. Ele não queria que ela seguisse a profissão e a proibiu de voltar para casa quando ela decidiu, aos 26 anos, se mudar de SP para o Rio para perseguir a carreira de intérprete.

Hoje, aos 60 e prestes a completar 40 desde sua estreia no teatro, Lilia já tem mais de 20 novelas no currículo —a última foi “A Força do Querer”, que terminou em outubro. Também começou a filmar um longa da peça “Maria do Caritó”, que protagoniz­ou ao longo de cinco anos.

Antes de uma gravação, a atriz recebeu o repórter João Carneiro em sua casa no Rio e falou sobre sua dedicação à profissão que escolheu —e que a filha, Giulia, também quer seguir—, dos desejos reprimidos na adolescênc­ia e dos louros que colheu pelo trabalho, incluindo duas indicações ao Emmy. “Dou muito valor, não é pouco não. Porque eu sei como custou”, diz. O COMEÇO A forma que eu via minha adolescênc­ia era como se estivesse dentro de uma garrafa e pusessem a tampa. Eu não sentia liberdade pra nada.

Eu era muito reprimida pelo meu pai. Havia um impediment­o de eu ser o que eu gostaria de ser. Eu lembro que eu assistia às novelas e ficava me imaginando o tempo inteiro no lugar da Dina Sfat, da Glória Menezes.

Eu pensava assim: “Isso eu sei fazer!”. Eu ia pro meu quarto, escrevia muito, e depois começava a interpreta­r aquilo que eu escrevia. E sempre tinha muita dor, sabe? Aquela sensibilid­ade à flor da pele. Eu fui cada vez mais acreditand­o que eu não queria ser nada, eu queria ser atriz. combinar de vê-la na casa da minha tia, e meu pai eu não via. Mas minha mãe ficou doente [de câncer]. Aí eu voltei.

Mesmo assim, o encontro foi horrível, porque meu pai me culpou pela doença dela. [Dizia] que “o sofrimento todo que ela teve”... Quer dizer, ele foi quem proporcion­ou esse sofrimento.

Mas, para não discutir, eu aceitei. Falei: “Tá bom, eu sou a culpada. Sou a culpada de tudo”. Mas minha mãe, depois da descoberta, não durou seis meses. Porque não tinha mais jeito. A FILHA Ao contrário [não hesitou em apoiar a filha, Giulia, 20, que estuda para ser atriz]. Por muito tempo, ela não falava. Ela vivia tudo aquilo comigo desde pequena, e ficava tolhida de dizer que queria ser atriz, porque todo mundo falava assim: “Ah, quer ser atriz porque a mãe é”.

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