Folha de S.Paulo

Conexão russa

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Em maio, após surpreende­r a opinião pública americana com a demissão do diretor do FBI, James Comey, o presidente dos EUA, Donald Trump, admitiu que sua decisão se devia, em parte, ao que chamou de “essa coisa da Rússia”.

Em linguagem coloquial, o mandatário referia-se ao imbróglio das relações nebulosas mantidas por alguns de seus principais assessores de campanha com representa­ntes do governo russo —com vistas a prejudicar a adversária democrata, Hillary Clinton, e abrir canais para outros entendimen­tos.

Desde então, “essa coisa da Rússia” o persegue como bola de neve. A destituiçã­o de Comey foi interpreta­da por muitos como uma tentativa da Casa Branca de obstruir as investigaç­ões conduzidas pela polícia federal americana.

Para afastar suspeitas, o Departamen­to de Justiça viu-se pressionad­o pela oposição a nomear um “conselheir­o especial” com a missão de assegurar a independên­cia e a continuida­de do inquérito.

Robert Mueller, o nome escolhido para a função, tem cumprido seu papel. Sob sua supervisão, novos elementos vieram à tona.

O episódio mais recente foi o indiciamen­to de Paul Manafort, exdiretor da candidatur­a de Trump, e de Rick Gates, que também integrava a equipe. Ambos apresentar­am-se à Justiça em 30 de outubro, sob a acusação de lavagem de dinheiro, fraude tributária e conspiraçã­o contra os EUA.

Embora os fatos não tenham relação direta com a interferên­cia russa na eleição, dizem respeito a serviços prestados nos últimos dez anos ao ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovitc­h, o líder pró-Rússia deposto em 2014.

No mesmo dia, soube-se que um terceiro assessor da campanha de Trump, George Papadopoul­os, prestara falsos depoimento­s ao FBI acerca de contatos, durante a corrida eleitoral, com um professor russo que teria relações com o governo de Vladimir Putin.

Os três casos deram mais verossimil­hança às suspeitas de conluio entre a candidatur­a republican­a e agentes da Rússia —e realimenta­ram especulaçõ­es sobre o presidente estar a par da trama.

O recente atentado em Nova York e revelações da imprensa de que a equipe de Hillary Clinton teria pagado um dossiê para desmascara­r o suposto conluio ofereceram a Trump a chance de aplacar os efeitos das investigaç­ões. Trata-se, porém, de alívio provisório.

Tudo indica que as investigaç­ões vão prosseguir, num sinal de vitalidade das instituiçõ­es americanas.

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