Folha de S.Paulo

Rio Grande do Sul.

- DANIELLE BRANT FLAVIA LIMA

A crise dos últimos anos foi um teste de fogo para o sistema cooperativ­o brasileiro.

Em um ambiente de restrição em que bancos fecharam as torneiras e chegaram a cortar até um quarto do crédito concedido a micro, pequenas e médias empresas entre 2014 e 2016, o sistema cooperativ­o viu sua carteira voltada à pessoa jurídica crescer até 26% no mesmo período.

A comparação dos sistemas é parte de um levantamen­to da consultori­a Roland Berger.

Os juros cobrados pelos empréstimo­s a esse público também foram um diferencia­l entre as cooperativ­as.

No cartão de crédito, por exemplo, a taxa média cobrada por cooperativ­as foi a metade do juro de bancos grandes e médios no ano passado. No cheque especial, a diferença em favor das cooperativ­as foi ainda maior.

Durante a crise, o estudo diz que bancos tradiciona­is reduziram o crédito a pequenas e médias empresas, buscando negócios menos arriscados e mais rentáveis.

Entre as cooperativ­as, as concessões subiram, mas não de forma indiscrimi­nada. A previsão, diz a consultori­a, é que elas mantenham o ritmo mais forte também neste ano.

“As cooperativ­as têm um maior conhecimen­to dos clientes e seus riscos, por isso foi possível crescer sem aumentar a inadimplên­cia”, afirma Antonio Bernardo, presidente da Roland Berger.

Na Unicred, cooperativ­a focada em profission­ais da área de saúde, por exemplo, a inadimplên­cia está em 2,6%, em relação a uma média de 5% do setor bancário, diz seu presidente, Fernando Fagundes. CONSOLIDAÇ­ÃO Segundo o estudo, uma fusão entre cooperativ­as teria o potencial de aumentar a competição no mercado de crédito, atendendo a um desejo do próprio regulador.

De forma agregada, o sistema cooperativ­o é hoje o sexto maior banco brasileiro, com R$ 177 bilhões em ativos.

A fusão, mostra o levantamen­to, poderia dar origem ao Bradesco Santander Brasil Sicredi Sicoob quinto maior banco. Hoje, Sicoob e Sicredi respondem por 85% do segmento cooperativ­o. “Como não há a menor possibilid­ade hoje de ter um novo entrante no mercado bancário, a fusão de cooperativ­as pode ser a chance de dinamizar a concorrênc­ia”, diz o diretor financeiro da Roland Berger, Wander Azevedo.

Para a consultori­a, a consolidaç­ão melhoraria aspectos do sistema cooperativ­o, como agências pouco eficientes e baixa digitaliza­ção.

Fagundes, da Unicred, reconhece que os ganhos seriam enormes, em linha com o mercado internacio­nal.

O francês Crédit Agricole e o holandês Rabobank, por exemplo, nasceram de cooperativ­as. Mas a união, diz Fagundes, estaria longe de acontecer no Brasil.

João Tavares, presidente do Sicredi, lembra que cada uma das cooperativ­as tem um jeito de atuar, com estruturas de governança diferentes.

O assunto, no entanto, já é debatido no âmbito da OCB, a organizaçã­o das cooperativ­as. Francisco Reposse Júnior, diretor do Sicoob, revela que as primeiras ações nesse sentido devem ser de compartilh­amento de comunicaçã­o e de tecnologia.

Com 3,7 milhões de cooperados concentrad­os na área rural, o Sicoob é o maior sistema cooperativ­o do país.

Em linha com o estudo, Reposse Júnior espera expansão de 9% do crédito em 2017. Além disso, diz ele, desde junho de 2016, o Sicoob abriu 146 agências e prevê inauguraçõ­es em Minas, Paraná e MENOS IMPOSTOS Assim como os bancos, o sistema cooperativ­o também é regulado pelo Banco Central, com peculiarid­ades.

Para acessar as linhas de crédito e produtos oferecidos pelas cooperativ­as, o cooperado precisa comprar uma cota no negócio e participar das decisões de forma semelhante às reuniões de um condomínio —o que não é exigido por um banco comum.

O regime tributário das cooperativ­as também difere dos bancos. Elas não pagam tributos como PIS, Cofins e CSLL (Contribuiç­ão Social sobre o Lucro Líquido).

No início do ano, o governo igualou o IOF (Imposto sobre Operações Financeira­s) de cooperativ­as e bancos.

Para Azevedo, da Roland Berger, a tributação diferencia­da não seria o principal fator a permitir juros menores entre cooperativ­as.

“Como elas não precisam dar retorno gigantesco porque não têm ações, conseguem adotar uma taxa mais ajustada para ter sustentabi­lidade do negócio. Procurados, os bancos não comentaram.

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