Folha de S.Paulo

Bancos veem espaço para retomar crédito

Com estabilida­de na inadimplên­cia, instituiçõ­es privadas esperam ampliar empréstimo­s também para empresas

- ANAÏS FERNANDES

Retomada da economia deve elevar demanda das pessoas jurídicas e estimular crédito para veículos e imóveis

Os maiores bancos privados do Brasil têm a avaliação de que há espaço para ampliar a concessão de crédito já no último trimestre do ano e prosseguir em alta ao longo de 2018, após as taxas de inadimplên­cia de julho a setembro ficarem perto da estabilida­de.

Depois de cerca de cinco anos seguidos reduzindo o crédito para a compra de veículos e a pequenas e médias empresas, o Itaú, maior banco privado do Brasil, afirma estar pronto para voltar a crescer nos segmentos.

“Foram carteiras que tiveram uma queda acentuada de forma deliberada em razão do apetite de risco. Acreditamo­s que esses movimentos estão concluídos e hoje temos apetite para crescer”, disse Candido Bracher, presidente­executivo do Itaú.

O índice do banco por atraso acima de 90 dias no Brasil fechou setembro em 3,8%, bem abaixo dos 4,8% do terceiro trimestre de 2016.

No Bradesco, o segundo maior privado do país, o departamen­to de economia estima cresciment­o de 5% do crédito em 2018, apesar das dificuldad­es em ano eleitoral, segundo Carlos Firetti, diretor de relações com o mercado.

“O empréstimo à pessoa física tem mostrado mais vigor, com o índice de desemprego em queda, e estamos vendo também para a pessoa jurídica alguma possibilid­ade de estabilida­de”, disse. O índice de inadimplên­cia na instituiçã­o ficou em 4,8% em setembro, 0,6 ponto percentual abaixo de um ano antes.

O Santander, único dos três grandes bancos a registrar alta na carteira de crédito no terceiro trimestre do ano, tem tentado estimular o financi- amento imobiliári­o. Em julho, lançou a modalidade de contrataçã­o on-line, mas a linha continuou praticamen­te estagnada em R$ 27 milhões.

“Eu acredito que se comece a ver reflexo no aumento do crédito imobiliári­o no primeiro trimestre de 2018”, disse Sérgio Rial, presidente do Santander Brasil. Para o executivo, a inadimplên­cia deve ficar estável no curto prazo —a taxa trimestral está em 2,9% desde o início do ano.

A carteira do banco foi impulsiona­da por empréstimo­s à pessoa física, que cresceu 5% no terceiro trimestre ante os três meses anteriores.

“Estamos vendo o começo da retomada do consumo. E o Santander mostrou apetite um pouco maior na concessão”, disse Felipe Silveira, analista da Coinvalore­s. RESPIRO Apesar disso, os demais bancos também destacam sinais de respiro já no terceiro trimestre, como a carteira de cartão de crédito do Itaú, que subiu 1,4% ante os três meses anteriores, ou o empréstimo para compra de veículos, que teve alta de 2% no Bradesco. “Parece pouco [a alta trimestral], mas é o primeiro cresciment­o depois de muito tempo”, disse Alexandre da Silva Glüher, vice-presidente de relações com investidor­es.

Os bancos mantiveram as projeções para as carteiras até o fim do ano —nos balanços do segundo trimestre, haviam cortado suas previsões para concessão de empréstimo em 2017.

O avanço do crédito às empresas, sobretudo para as grandes, deve ficar para o próximo ano.“As empresas ainda não entraram em uma fase de investimen­tos, estão em fase de ajustes. Há espaço para cresciment­o no ano que vem”, afirmou Glüher.

“A inadimplên­cia à pessoa física caiu porque os bancos foram seletivos. O que vai impactar mais a pessoa jurídica é a retomada da economia, que melhora a saúde financeira delas”, diz Silveira.

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