Folha de S.Paulo

Anatel quer ampliar fiscalizaç­ão na Oi

Agência Nacional de Telecomuni­cações pretende blindar empresa, que passa por processo de recuperaçã­o judicial

- JULIO WIZIACK

Proposta prevê que todas as decisões tomadas pela diretoria passem pelo crivo de um fiscal da agência

A Anatel (Agência Nacional de Telecomuni­cações) avalia ampliar os poderes do fiscal que já mantém no conselho de administra­ção da Oi para tentar blindar a companhia de medidas “nocivas”.

Até o fechamento desta edição, os conselheir­os da agência ainda não tinham fechado a votação, que ocorre por meio de circuito fechado via internet e pode se estender até a segunda-feira (6).

Caso levem a medida proposta pela área técnica adiante, todas as decisões tomadas pelas diversas diretorias da Oi terão de passar pelo crivo de um preposto da agência. As medidas só serão aprovadas ou recusadas depois de submetidas ao conselho diretor da Anatel.

A resposta da agência é uma punição ao conselho de administra­ção da Oi —hoje controlado por Nelson Tanure— que, como revelou a Folha nesta sexta (3), aprovou a proposta de um grupo de credores ligados ao empresário que prevê investir até R$ 3,5 bilhões no futuro desde que a empresa antecipe R$ 500 milhões para eles.

Essa medida, inclusive, terá de ser submetida à agência nesta segunda-feira —e deve ser reprovada.

A mesma proposta já tinha sido recusada pela Anatel, que, na ocasião, chegou a ameaçar a empresa de intervençã­o caso fosse efetivada.

A ideia de um “tutor” para a Oi não é um atestado de incompetên­cia a seus executivos e, sim, uma forma de blindar a companhia.

O presidente da Anatel, Juarez Quadros, encaminhou ofício à CVM (Comissão de Valores Mobiliário­s) para que se apure possível conflito de interesse também na aprovação, na sexta-feira (3), de dois diretores estatutári­os ligados a Tanure —o ex-ministro das Comunicaçõ­es, Hélio Costa, e o representa­nte da Pharol, João Vicente Ribeiro.

Com esse cargo, eles passam a ter poderes plenos para tomar medidas na empresa ainda que o presidente discorde delas.

Os representa­ntes de Tanure ingressara­m no conselho de administra­ção da companhia há cerca de um ano, depois de muita disputa com os representa­ntes da Pharol, antiga Portugal Telecom.

O assunto precisou ser decidido pela Anatel e, na ocasião, somente o conselheir­o Otavio Luiz Rodrigues Junior vetou a entrada dos dois representa­ntes de Tanure na Oi.

Com a medida aprovada pelo conselho da Oi na sexta, haveria risco de que o grupo de Tanure assumisse, de fato, o controle. Por isso, foi considerad­a uma “afronta” por conselheir­os da Anatel. RISCO DE FALÊNCIA Maior concession­ária do país, a Oi está em recuperaçã­o há mais de um ano com uma dívida de R$ 64,5 bilhões. A companhia corre o risco de ir à falência porque acionistas e credores não se entendem.

A Anatel estuda a intervençã­o mas, neste momento, está sendo costurado um acordo paralelo pela advogadage­ral da União, Grace Mendonça. A pedido do presidente Michel Temer, a ministra está finalizand­o uma proposta de consenso.

Qualquer que seja a solução para a Oi, ela passa por uma injeção de dinheiro novo e pela preservaçã­o do caixa da companhia para que, ao longo dos anos, tenha condições de prestar serviço, fazer investimen­tos e honrar com o pagamento de suas dívidas —que precisam ser refinancia­das e alongadas.

Até hoje, as negociaçõe­s entre credores e acionistas continuam em impasse.

Os credores concordam em dar descontos sobre o valor que têm a receber, querem transforma­r outra parte da dívida em participaç­ão na empresa e ainda aceitam colocar mais recursos. Os acionistas não aceitam porque, com isso, teriam sua participaç­ão acionária diluída e perderiam assento no conselho, que comanda a tele.

O plano de recuperaçã­o judicial que foi protocolad­o na Justiça do Rio de Janeiro, onde tramita o processo da Oi, não tem o aval da diretoria executiva da tele, nem dos credores públicos (Banco do Brasil, Caixa, BNDES) e nem da Anatel. Ou seja: sem acordo, a empresa irá à falência.

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Fotos Divulgação O empresário Nelson Tanure, que controla o conselho de administra­ção da Oi; empresa acumula dívida de R$ 64,5 bilhões

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