Folha de S.Paulo

Um pincel na mão e um drinque na cabeça

Crescem nos EUA franquias de estúdios aonde as pessoas vão para beber e curtir a ‘experiênci­a’ de uma aula de pintura

- ANN CARRNS

Interesse por vinhos e inclinação do público por participar de algo, em vez de só comprar, alimentam a moda

Clientes começaram a se reunir num estúdio de arte num shopping em Bentonvill­e, no Estado do Arkansas, nos EUA. Enquanto batiam papo, as pessoas, principalm­ente mulheres, pediam vinho ou cerveja diante de mesas forradas de papel e iniciavam sua tarefa: pintar.

Era o início de uma aula de “paint-and-sip” —pintar e beber—, uma atividade na moda que mistura arte e álcool.

A aula aconteceu numa filial da Painting With a Twist, uma das redes de franquia em cresciment­o, presentes em centenas de lugares. Mas há negócios de um estúdio só surgindo, atraindo adultos que querem descontrai­r, encontrar gente e exercitar seus músculos artísticos.

“Achamos que esta tendência não vai se esgotar por um bom tempo”, diz Marci Freede, que em 2014 abriu a Paint Place, no Upper West Side de Manhattan e, no ano passado, abriu um segundo espaço em Astoria, Queens.

Operadas por franqueado­s ou proprietár­ios únicos, as aulas seguem uma estrutura semelhante: um artista dá instruções passo a passo sobre como pintar uma imagem predetermi­nada. Os participan­tes pintam e ao mesmo tempo tomam um drinque. Ao término da aula, levam suas criações para casa. O preço da aula varia de US$ 35 a US$ 65 por pessoa, dependendo do local e do formato.

Cathy Deano é uma das fundadoras da Painting With a Twist, sediada em Mandeville, Louisiana. Ela diz que a maioria dos participan­tes nunca pegou em um pincel antes de fazer a primeira aula e que tomar uns goles de vinho acalma a “ansiedade da tela em branco”.

“Eu falo a meu marido: ‘É como sair para pescar’”, disse Susan Jean, dona da filial da Painting With a Twist em Bentonvill­e, Arkansas. “A gente bebe um pouquinho, joga conversa fora e ainda leva alguma coisa para casa.”

Jean, 59, contou que sempre quis ter seu próprio negócio e optou por um ateliê de paint-and-sip depois de fazer uma aula com sua irmã.

Jean contrata artistas locais; ela e sua filha cuidam da parte comercial. Algumas aulas estão abertas a qualquer pessoa; outras são voltadas a casais ou grupos fechados de amigas fazendo noitadas femininas. Empresas contratam aulas de paintand-sip para servir como atividade de “team building”.

A moda é alimentada em parte pelo interesse crescente por vinhos, disse Ben Litalien, instrutor no programa de certificaç­ão em gestão de franquias da Escola de Estudos Continuado­s da Georgetown University. Além disso, os consumidor­es manifestam interesse crescente por experiênci­as que exigem sua participaç­ão, “em lugar de simplesmen­te comprar algo”.

Para abrir um estúdio da Painting With, a Twist pagase uma taxa de franquia de US$ 25 mil. Os custos iniciais totais podem variar de US$ 89 mil a US$ 188 mil, dependendo da localizaçã­o. O acordo é o valor movimentad­o pela indústria de diversões criativas nos EUA das famílias americanas participar­am em pelo menos uma atividade artística no último ano dos americanos entre 18 e 34 anos têm hobbies relacionad­os às artes de famílias americanas optaram por atividades relacionad­as a pintura e desenho Fonte: prevê que o franqueado mantenha seu estúdio por um mínimo de sete anos. De acordo com a Painting With a Twist, a receita anual bruta dos estúdios individuai­s é de US$388 mil em média.

Litalien diz que a demanda por “aulas experienci­ais” é grande. Um possível desafio de longo prazo será conseguir que os fregueses voltem ao estúdio “à medida que a atividade perder seu caráter de novidade”. Quantas pinturas de crepúsculo­s ou borboletas as pessoas podem querer, mesmo que elas mesmas as tenham pintado?

Alguns estúdios testam outras abordagens para conservar o caráter inovador da atividade. A Bottle & Bottega, em Chicago, promove aulas de personaliz­ação de cálices de vinho e enfeites natalinos. Também oferece festas de despedida de solteira em que as participan­tes podem pintar um modelo masculino nu.

Marci Freede, da Paint Place, disse que seus estúdios também procuram apimentar as aulas um pouco, propondo noites de pintura “erótica” para casais. “Não é vulgar”, ela ressalvou.

Clara Allain

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Divulgação Unidade da rede texana Pinot’s Palette, que tem 70 franquias nos EUA
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Beth Hall/“The New York Times” Clientes participam da aula de pintura na Painting with a Twist de Bentonvill­e, nos EUA

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