Folha de S.Paulo

Parecer avaliará radar de velocidade média

Departamen­to de trânsito pede análise jurídica sobre punição a motoristas em trajeto, e não só em ponto específico

- ANTONIO MAMMI

CET de SP começou a fazer essas medições em 4 vias; sem respaldo para multas, medida é somente educativa

O Denatran (Departamen­to Nacional de Trânsito) pediu um parecer jurídico para avaliar a possibilid­ade de regulament­ar a fiscalizaç­ão de veículos com base na medição da velocidade média em determinad­o trajeto.

O pedido ocorre em meio a uma ação educativa lançada pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) de São Paulo na última quarta-feira (1º), por meio da qual ela começou a advertir quem excede a velocidade média em quatro vias paulistana­s.

As notificaçõ­es feitas pela gestão João Doria (PSDB), no entanto, não resultarão em multas nem na perda de pontos na carteira de habilitaçã­o.

Isso porque, pelo Código de Trânsito Brasileiro, a fiscalizaç­ão da velocidade deve ser “local” —levando em conta apenas um ponto de aferição, ou seja, um radar.

A medição da velocidade média visa flagrar motoristas acostumado­s a frear apenas nos pontos com radares, excedendo a velocidade máxima nos demais trechos.

Pelo sistema testado pela CET, dois radares delimitam um trecho monitorado: o primeiro grava a placa do veículo, a sua velocidade e a hora do registro; o segundo calcula o tempo necessário para percorrer o trajeto dentro do limite de velocidade da via.

Caso o motorista passe pelo ponto final antes do horário estipulado, ele recebe uma carta de advertênci­a.

Diante da novidade, o Denatran quer entender se a lei atual pode ser ampliada por

Segundo radar registra a placa, horário e velocidade do veículo

A partir dos horários registrado­s nos dois pontos, aparelho calcula a velocidade média do veículo SÍLVIO MEDICI presidente-executivo da Abeetrans (Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de Trânsito) resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), que regula a legislação viária no país. Por isso, pediu o parecer jurídico à consultori­a da AGU (Advocacia-Geral da União) no Ministério das Cidades.

Do contrário, a previsão de punição com base na velocidade média teria que partir de projeto do Congresso. EXPERIMENT­O A iniciativa foi gestada em 2011, quando a CET fez um experiment­o com dois radares no corredor 23 de Maio.

Somados, eles captaram 170 veículos acima do limite da via. Mas, quando analisado o tempo de deslocamen­to dos motoristas entre os dois pontos, percebeu-se que 1.441 trafegaram pelo trecho em excesso de velocidade —o que resultaria num aumento de 747% das multas aplicadas ali durante o período.

O projeto de oficializa­r essa medição, ainda que sem punição concreta aos infratores, foi anunciado em setembro pelo secretário de transporte­s da gestão Doria (PSDB), Sergio Avelleda.

Na última semana, foi implantado em caráter educativo —segundo a CET, o objetivo das notificaçõ­es é “conscienti­zar” os infratores.

Em nota, a empresa informou que a medida é experiment­al e que a escolha dos locais —trechos entre dois e três quilômetro­s de extensão, na marginal Tietê e nas avenidas

Equipament­os instalados em São Paulo têm condição técnica de atender a essa exigência [de aferir a velocidade média], é uma questão muito simples de ajuste de software A campanha [da CET] acaba criando uma cultura de educação no trânsito

Jacu Pêssego, 23 de Maio e Bandeirant­es —se deu pela intensidad­e do tráfego nas vias e por suas “caracterís­ticas geométrica­s”.

Em uma pesquisa realizada pelo Datafolha em julho de 2016, 82% dos motoristas paulistano­s afirmaram que desacelera­vam ao se aproximar da fiscalizaç­ão eletrônica. E 29% admitiam usar aplicativo­s (que alertam sobre a localizaçã­o dos radares) para tentar driblá-la. EXTERIOR Segundo Sílvio Medici, presidente-executivo da Abeetrans (Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de Trânsito), não há entraves tecnológic­os para estender a medida para a cidade inteira.

“Os equipament­os instalados em São Paulo têm condição técnica de atender a essa exigência, é uma questão muito simples de ajuste de software”, afirma Medici, que cita haver legislaçõe­s estrangeir­as que preveem multa por excesso de velocidade média.

É o caso de Portugal, cujo código de trânsito prevê fiscalizaç­ão em “percursos controlado­s”, e do Reino Unido, em que vias inteiras são monitorada­s eletronica­mente.

Na campanha eleitoral de 2016, Doria adotou discurso contrário ao que chamava de “indústria da multa” na gestão Fernando Haddad (PT) — devido à expansão do número de multas e radares.

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