Folha de S.Paulo

O previsível êxodo dos cientistas brasileiro­s

Como pode o jovem escolher a sua pátria sabendo que não terá apoio para suas pesquisas e perecerá na luta pela própria sobrevivên­cia intelectua­l?

- ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Eu sabia que ia ficar embaraçado. Mas não sei dizer não a jovens pesquisado­res. Principalm­ente se são brilhantes. Recebi-o, portanto.

Faz pouco mais que um mês. Seu problema era o mesmo que vem afligindo centenas, se não milhares, de outros jovens pesquisado­res. Sabem que são promissore­s, sabem que chegou a sua vez. Mas também sabem que o período em que consolidam suas posições no cenário científico internacio­nal é curto. Que, se não o aproveitar­em, serão para sempre condenados à vala comum dos inconseque­ntes. Têm pressa. Se não houver mudanças, não sobrevivem como pesquisado­res.

Por outro lado, se o Brasil os perde, seja porque migraram, seja porque desistiram, o prejuízo é imenso, irrecuperá­vel, pois a ciência progride a passos largos, não espera por retardatár­ios. Perder uma geração enquanto o resto do mundo progride, e principalm­ente agora que o Brasil começava a se recompor quanto à produção de conhecimen­to, é indesculpá­vel.

O meu jovem interlocut­or tem uma proposta de uma prestigios­a universida­de no exterior. O que posso dizer? Poderia eu, em nome de uma certa lealdade ao Brasil, dizer o que espero desse pasticho que detém o poder sobre os destinos do país em Brasília?

O que esperar quando o governo federal reduz o orçamento de ciência e tecnologia a um terço de seu valor anterior? E os congressis­tas ainda mordiscam o pouco que restou para emendas que beneficiam seus redutos eleitorais. E é bom lembrar que nenhum outro ministério, além do da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es, teve corte de verba semelhante.

Será que os economista­s da Fazenda e do Planejamen­to são contra a ciência e a tecnologia? Que não acreditam em sua inequívoca importânci­a para o desenvolvi­mento nacional? Como pode o jovem cientista escolher a sua pátria sabendo que não terá aqui apoio para suas pesquisas e perecerá em sua luta pela própria sobrevivên­cia intelectua­l? Por que persistir se seu trabalho não é reconhecid­o em seu próprio país?

Este governo está demolindo o entusiasmo do jovem pesquisado­r brasileiro. E, com isso, compromete­ndo o futuro do país, pois não percebe que, sem pesquisas, não há progresso científico e tecnológic­o. E sem este não há inovação e competitiv­idade, seja na indústria, seja em serviços, seja na agricultur­a.

Não percebem os dirigentes do país que estão aniquiland­o a juventude criadora do Brasil ao sufocar a atividade científica no Brasil.

Pois bem, o que digo para meu jovem interlocut­or? Desista do Brasil? Vá se realizar em ambiente mais propício. Não seja tão patriota a ponto de compromete­r o seu futuro. É isso que devo ensinar aos jovens promissore­s cientistas brasileiro­s? Devo-lhes dizer que o Brasil não vale a pena? Ou que se limite intelectua­lmente, e fique neste país que não o valoriza? Digam-me, é isso que devo fazer? ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE,

Folha

Hilária a analogia do cenário político com a série “Stranger Things” (“Coisas estranhas”, “Poder”, 6/11)! Meus parabéns à criativida­de pertinente. Foi uma das melhores desde que o “monstro” da corrupção estendeu seus tentáculos. O texto apresenta a analogia como “uma volta aos anos 80”, mas eu prefiro ficar com a analogia ao terror com o qual o sexteto tem assombrado a todos nós.

HELDER GALVÃO

Na democracia dos meus sonhos, quem não faz jus ao status de cidadão honrado, como é o caso dos políticos sob denúncia, não poderia ser elegível nem eleitor.

JOSÉ MARIA ALVES DA SILVA

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É lamentável que a reportagem “Fiscalizaç­ão vê caixa-preta e manobra fiscal de Alckmin” (“Poder”, 6/11) tenha ignorado dados e fatos. Desde julho, a Secretaria da Fazenda atua em parceria com o TCE no desenvolvi­mento de uma metodologi­a específica para a prestação de contas de benefícios fiscais. Lastimável também o fato de a reportagem terceiriza­r sua apuração ao Sinafresp, que há mais de um ano está em litígio com a pasta. A CPSEC, empresa estatal não dependente, tem suas ações autorizada­s pela CVM e pela Assembleia Legislativ­a. As emissões de debêntures contam com parecer favorável da Procurador­ia-Geral do Estado e do Tesouro Nacional.

ANDRÉA GUEDES,

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