Folha de S.Paulo

Às 6h, eu estava dormindo,

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Como foi a história de sua tentativa de suicídio?

Como foi isso? [Chora mais. Toma água]. Eu estava preso e vi pela televisão que fui condenado a 43 anos de prisão. Pensei “os caras ficaram loucos”. E mais 14 anos para a minha filha [Ana Cristina]. E ela não fez nada.

Tive um desespero...não é desespero. É revolta. Uma profunda revolta. Eu queria chamar a atenção. E pensei “vou fazer um ato de revolta”.

Eu reuni os cadarços do calção e com eles eu ia me enforcar. Pela câmara, a oficial viu e [impediu]. Mais 15 minutos ela não pegava mais.

Na hora eu fiquei pau da vida. Mas depois eu vi que era bobagem. Me enterravam e em três dias tudo acabava. Vou bancar o japonês, confissão de culpa? Não. Hoje penso que tenho que ficar vivo e lutar. O senhor resistiu à prisão? O que fez ao sair da prisão?

Saí duas vezes de casa apenas. Parecia que eu estava fazendo turismo no Rio. Em dois anos [em que esteve preso], a cidade mudou muito.

No primeiro dia em casa, eu senti muito vazio. A gente fica sempre procurando alguma coisa para fazer. De vez em quando penso “o que eu tenho mesmo que fazer agora?”. E eu não tenho que fazer nada!

Estou aprendendo a ser livre de novo. É essa a sensação.

Tive um desespero...não é desespero. É revolta. Uma profunda revolta. Eu queria chamar a atenção. E pensei ‘vou fazer um ato de revolta’ [cometer suicídio] Em uns quatro meses [podemos fazer a bomba nuclear]. Com a tecnologia de enriquecim­ento que nós usamos, podemos fazer com o plutônio, como a de Nagasaki, ou com o urânio, que foi a de Hiroshima

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