Novidade no ataque é alcance do míssil
DE SÃO PAULO
O lançamento do míssil que está sendo usado como um eventual “casus belli” contra o Irã pela Arábia Saudita não é novidade no conflito entre Riad e os rebeldes houthi. O tipo de armamento usado, contudo, sugere haver embasamento militar para a escalada retórica.
De 2015 para cá, foram reconhecidos pelo governo saudita 34 lançamentos. Até aqui, segundo levantamento feito pela consultoria Jane’s, todos tinham alcance entre 250 km e 500 km, dentro do que seria esperado de estoques aos quais os rebeldes possam ter tido acesso.
Os mísseis balísticos do Iêmen, variantes do Scud, foram adquiridos da União Soviética e da Coreia do Norte.
Mas o míssil do sábado chegou perto da pista do aeroporto de Riad, a 630 km da fronteira iemenita mais próxima.
Isso leva a duas suspeitas. A principal, de que o Irã tenha fornecido capacitação e peças para que os rebeldes fizessem versões melhoradas de seus Scuds, conhecidas como a série Burkan.
O míssil foi o terceiro do tipo a ser abatido por sistemas antiaéreos Patriot. O alcance surpreendeu, embora possa ter sido obtido às custas da redução do peso da ogiva, o que muda o centro de gravidade do foguete e o torna mais instável e impreciso.
É muito difícil que mísseis inteiros, e seus lançadores maiores, tenham sido enviados prontos ao Iêmen, já que há um bloqueio naval na área e apenas um porto rebelde capaz de receber equipamento pesado, Al Hudaydah.
Sobram assim portos secundários e rotas pelo deserto no vizinho Omã, que só serviriam para peças menores. Já houve interceptações de navios com armas vindas do Irã, mas não peças de mísseis.
A segunda hipótese é de que o fornecimento tenha ocorrido antes da guerra, pela Coreia do Norte, de um modelo conhecido com Scud-D.
Segundo a Jane’s, esse modelo teria alcance de 700 km, o que alimenta a suspeita de que foi o utilizado pelos houthis —que dificilmente dispensariam ajuda iraniana. (IG)