A senadores Temer distorce dados para defender governo
Presidente apresenta tabela comparando indicadores de sua gestão à de Dilma, usando critérios distintos
Peemedebista pede um acordo pela idade mínima após dizer que é difícil aprovar a reforma da Previdência
No esforço de mostrar que, mesmo sem reforma da Previdência, seu governo trouxe avanços, o presidente Michel Temer (PMDB) distribuiu a líderes do Senado nesta terçafeira (7) um quadro com a comparação de indicadores econômicos antes e depois de tomar posse no Planalto.
No documento, porém, Temer usou critérios diferentes para apresentar dados de sua gestão em contraponto aos de sua antecessora, Dilma Rousseff (PT).
Alguns indicadores contam com meses a mais quando se referem à atual gestão. Em economia, fazer relações entre períodos diferentes não é recomendado, pois há fatores sazonais que interferem nos resultados (por causa do Natal, por exemplo, há mais contratações temporárias em dezembro do que em julho).
Em nota, o Planalto afirmou que, “em todos os números apresentados, temos um retrato claro: o de um país que venceu a recessão mais profunda de sua história e voltou a crescer”.
O esforço do peemedebista ocorre no dia seguinte à fala em que ele admitiu a possibilidade de não conseguir aprovar a reforma da Previdência, uma das principais bandeiras de sua gestão.
No encontro com senadores, segundo relatos, Temer reforçou a defesa de um acordo entre a base aliada para aprovar projeto que se restrinja à aprovação de idade mínima de aposentadoria.
Para melhorar sua imagem, Temer deve anunciar nesta semana também o programa Avançar, com promessa de R$ 42 bilhões em investimentos.
Um dos exemplos da “generosidade” na comparação feita pelo presidente é o dado de exportação, que aponta que as vendas para o exterior mais que dobraram neste ano (150%). O presidente, porém, se concede o dobro de tempo de Dilma (dez meses para ele, ante cinco para ela).
Na realidade, a diferença é mais modesta: 20%.
Algo parecido acontece com o mercado de trabalho formal. Temer aponta dados de janeiro a agosto (163,4 mil vagas), mas, se levar em conta os números até maio, a geração de vagas foi menos da metade: 72,8 mil. De janeiro a maio de 2016, no fim do governo Dilma, o Brasil perdeu 448 mil postos.
No investimento direto no país, os dados até maio mostram entrada de US$ 32,2 bilhões, resultado próximo ao dos cinco primeiros meses de 2016, US$ 25,6 bilhões. O presidente preferiu ressaltar os US$ 40,3 bilhões até julho.
Também chama a atenção o fato de Temer ter destacado o risco-país de 20 de janeiro do ano passado, quando ele estava perto do seu patamar mais alto de 2016: 544 pontos. No dia de afastamento de Dilma, 12 de maio, ele já havia recuado para 376 pontos. Em 30 de outubro, apontou Temer, o índice marcava 239 pontos.
A assessoria da Presidência não comentou a diferença de critérios no levantamento dos indicadores. Segundo ela, a tabela apresentada “permite que se avalie com clareza a situação recebida pelo governo do presidente Michel Temer e os resultados alcançados em pouco mais de 18 meses de trabalho”, afirmou. jan. a jan. a mai.2016 mai.2017 -9,8 jan. a mai.2016 jan. a set.2017