Folha de S.Paulo

Protestos a favor e contra filósofa tomam rua em SP

Teoria de gênero era o tema dos manifestan­tes de ambos os lados, mas não o da palestra de Judith Butler

- GUSTAVO FIORATTI

Professora americana está no Brasil para lançar livro e participar de ciclo de palestras sobre democracia

Dentro do teatro do Sesc Pompeia, onde Judith Butler fazia uma conferênci­a na manhã de terça (7), a teoria de que os gêneros foram até hoje determinad­os por situações culturais, e não pelo sexo não esteve em pauta.

Mas a filósofa norte-americana não escapa da associação ao tema —de fato importante em sua produção—, que mobilizou dezenas de manifestan­tes na rua em frente ao centro cultural.

Ao lado de cartazes que defendiam que “meninos são meninos”, outros traziam a pauta política, dizendo que a Operação Lava Jato está “passando tudo a limpo”.

Religiosos e militares se mostravam numerosos entre os manifestan­tes que recusam a ideia de que alguém nascido com genitais masculinos pode se perceber como mulher e vice-versa.

Do outro lado do portão de entrada, um grupo mais numeroso defendia a liberdade de afirmação de gênero e da sexualidad­e.

Houve provocaçõe­s de ambos os lados; no ápice do protesto, os manifestan­tes de direita queimaram uma boneca caracteriz­ada como bruxa que trazia, à guisa de rosto, um retrato de Judith Butler.

Os protestos acontecera­m após uma petição on-line reunir mais de 300 mil assinatura­s pedindo o cancelamen­to do evento. A palestra, porém, não sofreu qualquer tipo de interferên­cia. Policiais militares circulavam pelos corredores do Sesc. DEMOCRACIA No teatro, Butler nem sequer mencionou a teoria de gênero. Sua participaç­ão no seminário “Os Fins da Democracia” se concentrou em questões relacionad­as às representa­ções nos governos e aos sentidos estabeleci­dos pela chamada teoria crítica.

Grosso modo, a teoria crítica é uma abordagem do começo do século 20, desenvolvi­da pelos pensadores da Escola de Frankfurt como uma forma de estruturaç­ão do pensamento diante da ascensão política do proletaria­do —mas também do autoritari­smo, a partir da Revolução Francesa.

Butler chamou atenção para a frequência com que “termos-chave”, tais como “autoritari­smo” e “fascismo” são usados, “sem que se realize o trabalho paciente de entender o que significar­am, o que significam e como mudaram”.

Ela fechou sua fala com uma questão sobre a democracia. “É algo que pode ser alcançado, uma vez que é para todos, ou é um processo que não se completa, tendo como princípio que um ideal não encontra sua forma final?”

A sessão foi a segunda fala de Butler nesta visita ao país. Na segunda (6), ela foi à Unifesp para falar sobre o tema de seu livro “Caminhos Divergente­s: Judaicidad­e e Crítica do Sionismo” (Boitempo, R$ 46,70, 240 págs.).

Ali, ela defendeu que criticar o sionismo ou a atuação política do Estado de Israel que resultou no confinamen­to de palestinos em Gaza não é o mesmo que criticar o judaísmo. Uma mulher saiu da palestra gritando “protejam nossas crianças” (contra a teoria de gênero).

Butler não parou de repetir a palavra “coabitar”. Se “o momento mais extremo da hostilidad­e pode resultar em um assassinat­o”, a verdadeira compreensã­o do sentimento de “coabitar” é o que pode impedir a violência, diz.

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Fotos Bruno Santos/Folhapress Na foto da esquerda, manifestan­tes protestam contra Judith Butler na porta do Sesc Pompeia; na da direita, grupo se reúne para apoiar filósofa e defender pluralidad­e de gêneros
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