Clima, capítulo 23
Com a abertura da Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima, em Bonn (Alemanha), a negociação internacional sobre aquecimento do planeta chega ao seu 23º ano sem avanço significativo à vista.
Ao contrário. Se o Acordo de Paris, de 2015, valer como marco mais recente de progresso, de lá para cá houve retrocesso com a eleição de Donald Trump nos EUA, segundo maior poluidor, e o anúncio da retirada do país do tratado.
A defecção americana despejou um balde de água fria no otimismo com o pós-Paris e outro de gasolina no conflito Norte-Sul que sempre escaldou as negociações.
O acordo de dois anos atrás foi possível porque Estados Unidos e China se aproximaram nessa matéria. Com a recusa de Trump a contribuir financeiramente para o combate à mudança climática, reacende-se a disputa entre países pobres e ricos sobre quem cobrirá o saldo negativo em aberto.
A reunião de Bonn deveria começar a detalhar as regras para que se cumpram e possam ser monitoradas as metas voluntárias acordadas por 195 países na capital fran- cesa. Há alta probabilidade, entretanto, de que tal discussão acabe engolfada pela questão financeira.
As reduções de emissões de carbono ali consagradas, de resto, são insuficientes para conter o aquecimento da atmosfera abaixo de 2°C.
Nações mais vulneráveis à elevação do nível do mar pressionam para que os compromissos de Paris avancem. Contam, a seu favor, com os dados preocupantes compilados em recente relatório da Organização Meteorológica Mundial.
A concentração de dióxido de carbono na atmosfera segue em alta; de 2013 a 2017, a temperatura média global galgou 1,03°C; 2017 caminha para se tornar um dos anos mais quentes.
O planeta enfrenta um número crescente de eventos climáticos extremos. Neste ano, pela primeira vez dois furacões de força 4 (Harvey e Irma) tocaram o continente americano. Ondas de calor fustigaram o Oriente Médio e a Argentina. Secas e calor intenso alimentaram incêndios florestais inauditos em uma série de países.
Bonn deveria ficar marcada por um sentido de urgência, mas tudo indica que não há clima para isso.