De graça, não vale
RIO DE JANEIRO - Na última eleição de Sérgio Cabral, em 2010, quando ele se reelegeu governador do Rio no primeiro turno, Ziraldo se ofereceu para criar gratuitamente a logomarca do governo. Amigo de seu pai, com quem fundara “O Pasquim”, o artista conhecia “Serginho” desde o nascimento.
Assim como a maioria dos fluminenses, empolgara-se com o primeiro mandato do governador. A afeição que tinha pela família Cabral o levou a oferecer o presente. “Fiz um negócio caprichadíssimo, mandei imprimir as camisetas e tudo mais”, diz Ziraldo.
A essa altura, no entanto, Serginho já não era mais o garoto simples do subúrbio de Cavalcanti, criado em meio à boêmia das rodas de samba que seu pai cultivava. Havia se aproximado dos ricos e poderosos, estava na fase das joias, iate de R$ 5 milhões, viagens de helicóptero oficial para a mansão em Mangaratiba.
“Ele não usou a marca que eu fiz para ele. Uma agência fez outra, mas, se eu ia dar uma, por que ele foi fazer com agência?”, questiona Ziraldo. “Eu descobri o porquê: uma marca é boa para lavar dinheiro. Você pode cobrar por ela o preço que quiser.”
Bingo. Como mostra a delação premiada do marqueteiro Renato Pereira, revelada por Thiago Herdy, do jornal “O Globo”, a agência de publicidade que cuidou de todas as campanhas do PMDB fluminense desde 2010 foi o canal para receber e escoar propina.
Malas de dinheiro vindas de fornecedores dos governos estadual e municipal bancaram os milionários caixas dois das campanhas. Licitações de publicidade foram dirigidas, e os vencedores compartilhavam parte do lucro dos contratos. Havia ainda um “mensalinho” para 11 nomes ligados ao governador, desde seu irmão até subsecretários.
O grande descobrimento deste Cabral, disse Ziraldo, foi que “era muito fácil roubar”: “Onde ele podia se meter para ganhar dinheiro, se meteu”. marco.canonico@grupofolha.com.br MATIAS SPEKTOR