Folha de S.Paulo

Após pressão, Temer decide trocar diretor-geral da PF

Delegado Fernando Segóvia assumirá cargo que era de Leandro Daiello

- MARINA DIAS CAMILA MATTOSO DANIELA LIMA

Nomeação tem como fiadores José Sarney e Eliseu Padilha, que havia reclamado depois de ação contra Geddel

O presidente Michel Temer decidiu trocar o comando da Polícia Federal e nomear o delegado de carreira Fernando Segóvia como o novo diretor-geral da corporação.

Ex-superinten­dente da PF no Maranhão, Segóvia vai substituir Leandro Daiello, que chefiou o órgão por quase sete anos, desde o governo Dilma Rousseff (PT).

A escolha de Segóvia foi estratégic­a para o núcleo político do governo, que desejava mudanças na condução das investigaç­ões da Operação Lava Jato.

Desde maio, com a delação de executivos da JBS, a operação tem avançado sobre o coração do Planalto.

O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e o ex-presidente José Sarney, ambos do PMDB, foram os principais fiadores da indicação à chefia da PF.

Segundo apurou a Folha, Padilha, um dos mais próximos aliados de Temer, fez seu apelo mais enérgico para a escolha de Segóvia na tarde de 5 de setembro, nas horas seguintes à Operação Tesouro Perdido, que encontrou R$ 51 milhões em um apartament­o em Salvador atribuídos ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB).

Auxiliares admitem que Padilha argumentav­a ser a hora de mudar o perfil da PF e dizem que o ministro encarou o episódio do bunker de dinheiro ligado a Geddel como a “gota d’água”.

Procurado pela reportagem, o ministro afirmou, por meio de nota, que a indicação do diretor-geral da PF é atribuição “exclusiva” do ministro da Justiça, Torquato Jardim, e que não “indicou nenhum delegado para exercício de tal cargo”.

Jardim, por sua vez, afirmou que não fez qualquer indicação. Em nota, o Ministério da Justiça informou que o “presidente da República escolheu nomear o delegado Fernando Segóvia”. ARTICULAÇÕ­ES Após a operação no apartament­o na Bahia, a PF incluiu os nomes de Padilha, Geddel, Temer, Moreira Franco (Secretaria-Geral) e dos ex-presidente­s da Câmara Henrique Eduardo Alves e Eduardo Cunha no chamado “quadrilhão do PMDB”, investigad­o no Supremo Tribunal Federal.

Na cúpula da polícia, porém, as articulaçõ­es de Padilha foram interpreta­das justamente como um temor do > Então superinten­dente da PF em São Paulo, foi nomeado diretor-geral da Polícia Federal pela presidente Dilma Rousseff em 2011 > Durante sua gestão ocorreram ações como a que resultou na cassação do então senador do DEM-GO Demóstenes Torres, em 2012 > Em 2014, com a deflagraçã­o da Operação Lava Jato, o diretor apoiou ações desencadea­das pela superinten­dência da PF no Paraná Romeu Tuma > Jan.1986-abr.1992 Vicente Chelotti > Fev.1995-mar.1999 Luiz de Alencar Araripe > Mar.1985-jan.1986 Amaury Aparecido Galdino > Abr.1992-jul.1993 Wilson Brandi Romão > Jul.1993-fev.1995 Wantuir Brasil Jacini > Mar.1999-jun.1999 ministro sobre até onde as apurações poderiam chegar.

A pressão do universo político em prol de Segóvia — que buscou apoio no governo e no Congresso para ser escolhido por Temer— irritou o ministro da Justiça, que inicialmen­te defendia o nome de Rogério Galloro, número > É delegado de carreira, está na Polícia Federal há 22 anos e atuou em funções administra­tivas em três gestões diferentes no órgão > Sua indicação para o cargo veio do Planalto e de políticos do PMDB; aproximou-se da família Sarney ao trabalhar no Maranhão > Suas atividades na corporação envolveram temas como controle de armas, relação da PF com indígenas e gestão de patrimônio João Batista Campelo > Jun.1999-jun.1999 Agílio Monteiro Filho > Jun.1999-abr.2002 Itanor Neves Carneiro > Abr.2002-jul.2002 Armando de Assis Possa > Jul.2002-jan.2003 dois de Daiello, para o cargo.

Logo após o episódio de Geddel, cresceram as especulaçõ­es sobre a nomeação de Segóvia, e Torquato tentou acertar com o próprio Daiello sua permanênci­a no posto por mais alguns meses —ele tem se queixado de cansaço desde o fim do governo Dilma— justamente para evitar uma indicação política. O esforço, porém, falhou. Segundo apurou a Folha, Temer já havia decidido por Segóvia há algumas semanas, mas aguardava um momento de “fragilidad­e de Torquato”, nas palavras de um assessor do presidente, para dar publicidad­e à escolha.

Receoso de que a indicação pudesse lhe trazer problemas, Temer ainda pediu que seus assessores passassem um pente fino na biografia do delegado, que chegou a mostrar uma certidão para provar que nunca havia respondido a nenhum processo administra­tivo.

O Planalto ficou bastante irritado com Torquato na semana passada, quando ele disse que o governo do Rio não controla a PM e que o comando da corporação está associado ao crime organizado.

À época, ministros de Temer classifica­ram, em caráter reservado, as declaraçõe­s como “desnecessá­rias” e chegaram a cogitar uma possível troca do comando da Justiça na reforma ministeria­l prevista para o fim deste ano.

O perfil conciliado­r de Temer, dizem assessores, impede rompantes que desemboque­m em demissões, por exemplo. Quando está contrariad­o, o presidente costuma desidratar auxiliares que o desagradam e espera um pedido para eventual saída.

Para aliados, essa pode ser uma justificat­iva para a nomeação neste momento, a contragost­o de Torquato. SEM CONSENSO Apesar de ter o respaldo do universo político e padrinhos poderosos, Segóvia não tem o apoio do ministro da Justiça e não é unanimidad­e entre as entidades que representa­m integrante­s da PF.

Segóvia reclamava que Torquato não lhe recebia, mas nesta terça (7) foi chamado por ele para definir sua nomeação. Daiello não havia sido informado sobre a troca até a noite de terça.

Nesta quarta, Torquato levou Segóvia ao Planalto para formalizar sua nomeação com Temer.

Além do nome dele e de Galloro, Luiz Pontel de Souza também foi cotado para substituir Daiello.

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Fernando Segóvia (à esq.), que vai ser nomeado diretor-geral da PF, com Daiello, que deixa o cargo que assumiu em 2011

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