Após pressão, Temer decide trocar diretor-geral da PF
Delegado Fernando Segóvia assumirá cargo que era de Leandro Daiello
Nomeação tem como fiadores José Sarney e Eliseu Padilha, que havia reclamado depois de ação contra Geddel
O presidente Michel Temer decidiu trocar o comando da Polícia Federal e nomear o delegado de carreira Fernando Segóvia como o novo diretor-geral da corporação.
Ex-superintendente da PF no Maranhão, Segóvia vai substituir Leandro Daiello, que chefiou o órgão por quase sete anos, desde o governo Dilma Rousseff (PT).
A escolha de Segóvia foi estratégica para o núcleo político do governo, que desejava mudanças na condução das investigações da Operação Lava Jato.
Desde maio, com a delação de executivos da JBS, a operação tem avançado sobre o coração do Planalto.
O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e o ex-presidente José Sarney, ambos do PMDB, foram os principais fiadores da indicação à chefia da PF.
Segundo apurou a Folha, Padilha, um dos mais próximos aliados de Temer, fez seu apelo mais enérgico para a escolha de Segóvia na tarde de 5 de setembro, nas horas seguintes à Operação Tesouro Perdido, que encontrou R$ 51 milhões em um apartamento em Salvador atribuídos ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB).
Auxiliares admitem que Padilha argumentava ser a hora de mudar o perfil da PF e dizem que o ministro encarou o episódio do bunker de dinheiro ligado a Geddel como a “gota d’água”.
Procurado pela reportagem, o ministro afirmou, por meio de nota, que a indicação do diretor-geral da PF é atribuição “exclusiva” do ministro da Justiça, Torquato Jardim, e que não “indicou nenhum delegado para exercício de tal cargo”.
Jardim, por sua vez, afirmou que não fez qualquer indicação. Em nota, o Ministério da Justiça informou que o “presidente da República escolheu nomear o delegado Fernando Segóvia”. ARTICULAÇÕES Após a operação no apartamento na Bahia, a PF incluiu os nomes de Padilha, Geddel, Temer, Moreira Franco (Secretaria-Geral) e dos ex-presidentes da Câmara Henrique Eduardo Alves e Eduardo Cunha no chamado “quadrilhão do PMDB”, investigado no Supremo Tribunal Federal.
Na cúpula da polícia, porém, as articulações de Padilha foram interpretadas justamente como um temor do > Então superintendente da PF em São Paulo, foi nomeado diretor-geral da Polícia Federal pela presidente Dilma Rousseff em 2011 > Durante sua gestão ocorreram ações como a que resultou na cassação do então senador do DEM-GO Demóstenes Torres, em 2012 > Em 2014, com a deflagração da Operação Lava Jato, o diretor apoiou ações desencadeadas pela superintendência da PF no Paraná Romeu Tuma > Jan.1986-abr.1992 Vicente Chelotti > Fev.1995-mar.1999 Luiz de Alencar Araripe > Mar.1985-jan.1986 Amaury Aparecido Galdino > Abr.1992-jul.1993 Wilson Brandi Romão > Jul.1993-fev.1995 Wantuir Brasil Jacini > Mar.1999-jun.1999 ministro sobre até onde as apurações poderiam chegar.
A pressão do universo político em prol de Segóvia — que buscou apoio no governo e no Congresso para ser escolhido por Temer— irritou o ministro da Justiça, que inicialmente defendia o nome de Rogério Galloro, número > É delegado de carreira, está na Polícia Federal há 22 anos e atuou em funções administrativas em três gestões diferentes no órgão > Sua indicação para o cargo veio do Planalto e de políticos do PMDB; aproximou-se da família Sarney ao trabalhar no Maranhão > Suas atividades na corporação envolveram temas como controle de armas, relação da PF com indígenas e gestão de patrimônio João Batista Campelo > Jun.1999-jun.1999 Agílio Monteiro Filho > Jun.1999-abr.2002 Itanor Neves Carneiro > Abr.2002-jul.2002 Armando de Assis Possa > Jul.2002-jan.2003 dois de Daiello, para o cargo.
Logo após o episódio de Geddel, cresceram as especulações sobre a nomeação de Segóvia, e Torquato tentou acertar com o próprio Daiello sua permanência no posto por mais alguns meses —ele tem se queixado de cansaço desde o fim do governo Dilma— justamente para evitar uma indicação política. O esforço, porém, falhou. Segundo apurou a Folha, Temer já havia decidido por Segóvia há algumas semanas, mas aguardava um momento de “fragilidade de Torquato”, nas palavras de um assessor do presidente, para dar publicidade à escolha.
Receoso de que a indicação pudesse lhe trazer problemas, Temer ainda pediu que seus assessores passassem um pente fino na biografia do delegado, que chegou a mostrar uma certidão para provar que nunca havia respondido a nenhum processo administrativo.
O Planalto ficou bastante irritado com Torquato na semana passada, quando ele disse que o governo do Rio não controla a PM e que o comando da corporação está associado ao crime organizado.
À época, ministros de Temer classificaram, em caráter reservado, as declarações como “desnecessárias” e chegaram a cogitar uma possível troca do comando da Justiça na reforma ministerial prevista para o fim deste ano.
O perfil conciliador de Temer, dizem assessores, impede rompantes que desemboquem em demissões, por exemplo. Quando está contrariado, o presidente costuma desidratar auxiliares que o desagradam e espera um pedido para eventual saída.
Para aliados, essa pode ser uma justificativa para a nomeação neste momento, a contragosto de Torquato. SEM CONSENSO Apesar de ter o respaldo do universo político e padrinhos poderosos, Segóvia não tem o apoio do ministro da Justiça e não é unanimidade entre as entidades que representam integrantes da PF.
Segóvia reclamava que Torquato não lhe recebia, mas nesta terça (7) foi chamado por ele para definir sua nomeação. Daiello não havia sido informado sobre a troca até a noite de terça.
Nesta quarta, Torquato levou Segóvia ao Planalto para formalizar sua nomeação com Temer.
Além do nome dele e de Galloro, Luiz Pontel de Souza também foi cotado para substituir Daiello.