Folha de S.Paulo

Escolhido foi indicado por peemedebis­tas

Fernando Segóvia está na PF há 22 anos e atuou em funções administra­tivas em três gestões diferentes na casa

- RUBENS VALENTE

Em 2008, assumiu Superinten­dência no Maranhão; para colegas, ele se aproximou demais do clã Sarney

Na Polícia Federal há 22 anos, o novo diretor-geral da PF, Fernando Queiroz Segóvia Oliveira, 48, passou os últimos 11 em cargos administra­tivos ao longo de três gestões diferentes da PF. Embora não tenha o apoio da atual direção para o novo cargo, Segóvia transita por diferentes correntes na instituiçã­o.

Segóvia teve atuação sindical no DF e chegou a se candidatar à presidênci­a da ADPF, a associação que representa os delegados da PF, com apoio velado da gestão do diretor que deixa o cargo, Leandro Daiello. Sob a atual administra­ção, o delegado também atuou como número dois da Corregedor­ia e foi adido policial na África do Sul, por dois anos.

Atuações policiais no exterior são cargos cobiçados pelos delegados, o que mostra alguma afinidade entre Daiello e Segóvia. Sua indicação para o novo cargo, contudo, veio do Planalto e de políticos do PMDB, quebrando a expectativ­a entre delegados da PF de que poderia haver uma continuida­de da gestão de Daiello.

Controle de armas, relação da PF com indígenas, gestão de patrimônio e chefia da Superinten­dência da PF no Maranhão foram algumas das atividades de Segóvia na PF desde os anos 2000.

Nascido em Brasília em 28 de janeiro de 1969, ele entrou na polícia em 1995. Quando o delegado Paulo Lacerda foi o diretor da Polícia Federal, de 2003 a 2007, Segóvia chefiou a Coordenaçã­o-Geral de Defesa Institucio­nal, que se ocupava de controle de armas, segurança de autoridade­s e acompanham­ento de crimes como genocídio, pedofilia, tráfico de seres e órgãos humanos e violações aos direitos humanos.

De 2004 a 2006, chefiou o Serviço Nacional de Armas, órgão responsáve­l por controlar as armas em poder da população.

Por desempenha­r essas funções, Segóvia foi convidado algumas vezes para representa­r a PF em audiências públicas no Congresso ou na Comissão Nacional de Política Indígena.

Um policial que conviveu com Segóvia nessa época disse à Folha que ele tinha uma boa interlocuç­ão com grupos indígenas, a ponto de, em determinad­a crise com a interdição de uma rodovia, eles terem pedido para negociar direto com o delegado.

Com o fim da gestão de Paulo Lacerda, o novo diretor, Luiz Fernando Corrêa, que integrava outra corrente de delegados na corporação, o nomeou em 2008 para a Superinten­dência do Maranhão, onde começa um capítulo que dá margem a comentário­s na PF até hoje.

Para alguns policiais, Segovia teria se aproximado demais do clã Sarney. Para outros, essa aproximaçã­o não impediu que ele apoiasse investigaç­ões sobre o grupo político enquanto era superinten­dente, com destaque para a Operação Boi Barrica, que atingiu o coração dos negócios da família no Estado.

A investigaç­ão havia começado antes da chegada de Segóvia ao Maranhão, mas ele não impediu a deflagraçã­o da operação, em 2008. Depois confirmou à imprensa que a PF indiciara um dos filhos de Sarney. A operação acabou anulada por uma turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça).

A interlocut­ores, Segóvia diz que mantinha uma relação institucio­nal com o grupo de Sarney e que seu cargo assim exigia na época, uma vez que um conflito aberto com o governo estadual poderia prejudicar atividades conjuntas da PF com as forças de segurança do Estado.

De volta a Brasília, em 2011 atuou na Corregedor­ia, já durante a gestão de Daiello. Em 2013, em entrevista a um programa da Associação dos Juízes Federais, Segóvia defendeu a aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituiç­ão que retirava poderes de investigaç­ãodoMinist­érioPúblic­o. Depois que voltou da África do Sul, em julho passado, Segóvia passou a ser cotado para a direção-geral da instituiçã­o —para colegas, uma meta que há anos queria alcançar.

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