Folha de S.Paulo

Temer admite fim de aliança com tucanos e quer antecipar reforma

Presidente pretende entregar ministério­s de tucanos a aliados que hoje estão insatisfei­tos

- BRUNO BOGHOSSIAN MARINA DIAS

Peemedebis­ta propôs ao centrão fazer as trocas em janeiro, mas grupo pressionou por mudanças imediatas

Com o acirrament­o da pressão interna do PSDB pelo desembarqu­e de seu governo, o presidente Michel Temer admite a saída antecipada dos ministros tucanos e a redistribu­ição dessas pastas para aplacar a insatisfaç­ão de outras siglas da base aliada.

Em conversas com auxiliares nos últimos dias, Temer disse que o rompimento com o PSDB é irreversív­el e quer aproveitar a saída desses aliados para fazer uma reforma ministeria­l ampla ainda este ano. Nesse cenário, seriam substituíd­os os ministros tucanos e outros integrante­s do primeiro escalão do governo.

O presidente propôs a líderes governista­s nesta quartafeir­a (8) a realização dessas trocas em janeiro, mas o centrão —bloco formado por partidos como PP, PR e PTB— rechaçou a oferta e cobrou uma reforma imediata.

Temer preferia manter os tucanos em seu governo até abril de 2018, quando 17 ministros deixarão seus cargos para disputar eleições.

Ele avaliava que mudanças no primeiro escalão antes disso abririam nova crise na base aliada.

O governo queria evitar o desembarqu­e do PSDB por acreditar que o partido, que comanda quatro ministério­s, terá peso na aprovação da agenda de ajustes fiscais e da reforma da Previdênci­a, que tramita no Congresso.

Além disso, os tucanos são considerad­os um pilar simbólico de sustentaçã­o de seu governo junto ao mercado financeiro e ao setor produtivo do país.

Ministros de Temer também queriam conter a saída do PSDB do governo para evitar o cresciment­o do poder do centrão —que ganhou força quando Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje preso, chegou à presidênci­a da Câmara, em 2015.

Para conter o rompimento com os tucanos, o Palácio do Planalto fez uma aproximaçã­o intensa nos últimos meses com as alas governista­s do PSDB —lideradas pelo senador Aécio Neves (MG) e pelos ministros Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Aloysio Nunes (Relações Exteriores). DESEMBARQU­E O governo acreditava que havia conseguido conter o desembarqu­e, apesar das divisões internas dos tucanos. Dos 46 deputados do partido, apenas 20 apoiaram Temer na votação que barrou a segunda denúncia contra o presidente, no fim de outubro.

Temer passou a admitir a saída do PSDB do governo ao observar o fortalecim­ento das movimentaç­ões do partido pelo desembarqu­e e a pres- são de partidos do chamado centrão por uma redistribu­ição dos espaços dos tucanos.

Agora, o Palácio do Planalto entende que a melhor estratégia será aceitar a demissão dos ministros tucanos o quanto antes —possivelme­nte ainda este ano— para usar esses espaços com o objetivo de evitar a rebelião do centrão. BOICOTES O governo quer saciar essas siglas para salvar a reforma da Previdênci­a e outros projetos considerad­os prioritári­os para o ajuste fiscal proposto pelo governo.

O centrão ameaçava boicotar votações no Congresso enquanto não ganhasse mais espaço na Esplanada.

Na avaliação de auxiliares de Temer, o desembarqu­e é considerad­o inevitável devido à consolidaç­ão do senador Tasso Jereissati (CE) na disputa pelo comando do PSDB e do governador Geraldo Alckmin (SP) como virtual candidato à Presidênci­a da República.

Os dois cobram o rompimento com Temer para tentar reduzir a contaminaç­ão do PSDB pela impopulari­dade do governo.

O movimento tucano pelo desembarqu­e irrita a cúpula do PMDB, que afirma que o PSDB corre o risco de se isolar no palanque presidenci­al do ano que vem.

Dirigentes peemedebis­tas dizem que, nas atuais circunstân­cias, o partido se recusará a apoiar a chapa de Alckmin ao Palácio do Planalto no primeiro turno.

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