E-mail prova isenção da PGR, afirma Janot
Ex-procurador-geral rebate reportagem da sobre roteiro de delação da JBS feito pelo ex-procurador Miller
‘Esta é a coerência de se comparar, como pares, sorveteiros e esquimós, porque os dois mexem com gelo’, ele criticou FOLHA,
O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot disse que o e-mail do ex-procurador Marcello Miller sobre a delação da JBS revelado pela Folha na quarta (8) “é a prova absoluta de que nós não tí- nhamos nenhum acerto” com os delatores do grupo.
“Tanto que ele [Miller] instruía as pessoas sobre eventuais obstáculos que nós faríamos e como eles deveriam superá-los”, disse Janot, na quarta, em Cuiabá.
A Folha teve acesso a um e-mail de 9 de março de 2017, dois dias após o empresário Joesley Batista gravar o presidente Michel Temer no Palácio do Jaburu. O texto sugere que a PGR (ProcuradoriaGeral da República) já sabia que Temer estaria entre os delatados no dia em que foi gra- vado. O nome do presidente é mencionado como um dos principais delatados, além da indicação de que o acordo já havia sido discutido previamente com a equipe de Janot.
“[A reportagem] me questionou sobre o fato de que este caso só entrou na Procuradoria dia 27 de março e o email é do dia 9, portanto seria incoerente. Incoerente por quê, se quem mandou o e-mail foi o Miller, do computador pessoal dele, como diz a própria reportagem, dirigido ao pessoal da JBS?”, afirmou Janot.
“O fato de o presidente da República ter praticado mais de um crime, no exercício da Presidência, não é notícia. A notícia é que um dos ‘braços direitos do procurador’ instruiu a JBS a se comportar desta ou daquela maneira. Esta é a coerência de se comparar, como pares, sorveteiros e esquimós. Os dois mexem com gelo”, criticou.
Ele afirmou que as denúncias que fez contra Temer são “técnicas”. “Chegou ao ponto de dizerem que elas foram feitas pelo fato de que eu não queria que designassem meu substituto, como se isso fos- se possível. Pergunte a qualquer juiz se, com uma denúncia dessas nas mãos, eles aceitariam ou rejeitariam.”
“Quando surgiu a omissão no acordo da JBS, a iniciativa de rescindir o acordo foi minha. A suspensão dos benefícios foi minha. Eu denunciei essas pessoas e pedi a prisão e eles estão há dois meses presos. Pedi a prisão do meu colega [Miller] e o ministro [Edson] Fachin não deu. Aí, por que ele não deu, já vi dizerem que o pedido de prisão foi meia bala. Como um pedido é meia bala no STF?”
Janot questionou o vazamento do e-mail pela Comissão Parlamentar de Inquérito da JBS.
“A Comissão Parlamentar de Inquérito não vê, escorregou, assim, um e-mail que estava na mão dela, que é de investigação dela, para uma jornalista e essa jornalista tinha todas estas inferências, ‘que as provas estão contaminadas, que vocês sabiam e tal’, com base neste e-mail. E aí hoje sai a convocatória para a CPI do meu colega, que foi meu chefe de gabinete [Eduardo Pelella].”