Trump tira proteção de imigrantes vindos da América Central
Fim de status especial pode expor famílias a gangues que atuam no subcontinente
O governo dos EUA decidiu nesta semana tirar 2.500 nicaraguenses do programa que permite que populações de países afetados por catástrofes naturais sejam recebidas nos EUA, com permissão de residência e trabalho por um tempo determinado.
A mesma medida deve atingir 57 mil hondurenhos, 200 mil salvadorenhos e 50 mil haitianos. Essas pessoas foram acolhidas em 1998, depois que o furacão Mitch atingiu a América Central.
Nas administrações de George W. Bush e Barack Obama, a possibilidade de o programa contemplar esse grupo foi sendo renovada, porque se avaliou que o retorno dessas pessoas a países violentos e de economia frágil poderia causar uma crise, que se reverteria num aumento da imigração ilegal para os EUA.
Uma comitiva hondurenha conseguiu que o Status de Proteção Temporária para seus cidadãos, que venceria em dezembro, fosse prolongado até julho de 2018. Já os haitianos e os salvadorenhos, cujos amparos se encerram em janeiro e março, receberam sinais da Casa Branca de que não obterão renovações.
A decisão pode agravar a crise humanitária que vivem esses países.
O cenário de violência que hoje faz com que o Triângulo do Norte (Honduras, El Salvador e Guatemala) seja a região do mundo com mais homicídios, tirando as zonas de guerra, é resultado do enfrentamento entre “maras” (gangues) que se formaram em solo norte-americano.
Elas se tornaram mais numerosas ao serem deportadas pelo governo Clinton, nos anos 1990, a países que não tinham estrutura social e econômica para recebê-las.
Uma vez em casa, essas “maras” seguiram na vida criminosa, praticando extorsões, narcotráfico e sequestros. É disso que desejam escapar os refugiados que são vistos pendurados em trens, nadando ou caminhando pelo deserto.
Longe de resolver o problema em sua origem (o que significaria ajudar os países da América Central a reorganizar suas economias, frágeis desde os tempos das guerras civis, e receber os imigrantes que chegam aos EUA), a administração Trump toma atitudes que apontam na direção contrária.
A comunidade internacional tampouco tem se manifestado em relação à crise humanitária no subcontinente.
O governo e a mídia norteamericanos preferem falar em “imigrantes ilegais”, evocando a imagem de criminosos. As imagens dizem outra coisa. São famílias, mulheres com bebês e crianças viajando em trens de carga, meninas que tomam anticoncepcionais antes da viagem porque já sabem que serão estupradas no caminho e pais que saem no meio da noite cobrindo os filhos com medo de que as “maras” os sequestrem e recrutem.