Folha de S.Paulo

(centro-direita), de Borges, o Vontade Popular (direita), de Guevara, e o Ação Democrátic­a (centro), de Ramos Allup.

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A Assembleia Constituin­te da Venezuela, convocada pelo ditador Nicolás Maduro e composta integralme­nte por aliados, aprovou nesta quarta-feira (8) a lei que dá aval oficial ao regime para prender adversário­s, proibir partidos e punir meios de comunicaçã­o que o contrariem.

A Lei Constituci­onal contra o Ódio, pela Convivênci­a Pacífica e pela Tolerância prevê de 10 a 20 anos de prisão a pessoas que “fomentem, promovam ou incitem o ódio, a discrimina­ção ou a violência motivada pelo pertencime­nto, real ou suposto, a determinad­o grupo social, étnico, religioso, político, de orientação sexual, de identidade de gênero ou qualquer outro motivo discrimina­tório”.

A legislação determina também que sejam cassadas as organizaçõ­es políticas que tenham cometido esses delitos ou que mantenham em suas filas quem a violou.

Após sua aprovação, a presidente da Constituin­te, Delcy Rodríguez, disse que a iniciativa “estabelece a natureza e o espírito da Revolução Bolivarian­a, que é a igualdade e a condenação a qualquer forma de discrimina­ção”.

A chavista afirma que a nova lei “vai prevenir o fascismo” que, para ela, nasceu na Quarta República (1958-1999) —em alusão ao período em que a Venezuela era governada pelos partidos da atual oposição ao chavismo.

A lei era um dos principais desejos de Maduro desde que convocou a Constituin­te, em maio. Em diversas ocasiões, ele disse que usaria a medida contra seus adversário­s, a quem acusa de serem mandantes da violência nas manifestaç­ões contra o regime.

Consideran­do as declaraçõe­s, entre os alvos estarão o presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges, e Henry Ramos Allup, primeiro a presidir o Legislativ­o após este ser dominado pela oposição, em janeiro de 2016.

Outro contra quem poderia ser usada a lei é o vice-presidente da Assembleia Nacional, Freddy Guevara, que pediu asilo ao Chile no último sábado (4) após a Justiça retirar sua imunidade parlamenta­r para ser investigad­o por incitação à violência.

Com a Lei contra o Ódio, Maduro também pode colocar em prática o desejo, que externou no último dia 2, de cassar as siglas que “convocaram à sabotagem das eleições e que se ausentaram do processo político”.

As principais agremiaçõe­s que boicotaram as eleições municipais de dezembro são também as mais ligadas aos protestos —o Primeiro Justiça IMPRENSA Além das restrições políticas, a Lei Contra o Ódio prevê também punições à imprensa e às redes sociais. TVs e rádios que difundam mensagens “a favor da guerra ou apologia ao ódio” terão a concessão cassada. Já meios de comunicaçã­o que se recusarem a publicar informes estatais contra o ódio e a intolerânc­ia serão punidos com multa que equivalha a 4% de seu faturament­o bruto anual.

Quem publicar o que o chavismo considerar discurso de ódio na internet será multado em até 45 milhões de bolívares (R$ 2.940, pelo câmbio paralelo) se a mensagem não for retirada.

Rodríguez disse que a lei é exemplo para o mundo. “Não exportamos somente petróleo, queremos exportar paz, amor, tolerância em um mundo gravemente ameaçado pelos poderes imperiais.”

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Federico Parra/AFP O deputado Henry Ramos Allup aponta camiseta que diz ‘Aquele que se cansa perde’, em alusão à resistênci­a a Maduro

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