Folha de S.Paulo

Doria projeta lei de reforma da Previdênci­a

Prefeito enviará neste ano à Câmara plano para criar sistema complement­ar; alíquotas de contribuiç­ão podem subir

- GUILHERME SETO ANA ESTELA DE SOUSA PINTO

Sem mudança, gestão prevê deficit de R$ 21 bi em SP em 2025; pressão do funcionali­smo levou Haddad a rever projeto

O projeto de reforma previdenci­ária municipal será enviado pela gestão João Doria (PSDB) para a Câmara ainda em 2017 e deverá ter dois pontos principais: aumento da contribuiç­ão para todos os servidores e um sistema de Previdênci­a complement­ar.

A proposta é que esse novo sistema seja obrigatóri­o para os funcionári­os admitidos depois da aprovação do projeto e com salário acima do teto de aposentado­ria (R$ 5.531,31) do INSS. Para os demais servidores, a adesão será opcional.

Atualmente, 70 mil servidores recebem acima de R$ 5.531,31. A prefeitura diz ter ganhado 22.121 novos funcionári­os desde 2013 —3.846 deles só neste ano.

Com a previsão de que o deficit previdenci­ário chegue a R$ 20,8 bilhões por ano em 2025, a proposta de Doria deve ser enviada aos vereadores “nos próximos dias” ou “até o fim do mês”, segundo Caio Megale, secretário da Fazenda.

“Tem que fazer um esforço adicional de contribuiç­ão. Não tem mágica. Tem que fazer Previdênci­a complement­ar. No meio do caminho, criar uma contribuiç­ão adicional ou tentar isso”, afirma.

A alíquota de contribuiç­ão previdenci­ária, hoje de 11%, deve seguir a tendência nacional: União e Estados, como o Rio de Janeiro, elevaram a porcentage­m para 14%. Também deve subir a contribuiç­ão patronal, hoje de 22%.

O mais provável é a criação de plano complement­ar municipal sob gestão do SP-Prevcom, o sistema de Previdênci­a complement­ar do Estado, pelo menos no início. A opção tem menos custo que criar uma fundação própria.

Nesse caso, a contribuiç­ão da prefeitura sobre o que exceder o teto do INSS será menor que os 22%. Na SP-Prevcom, por exemplo, a alíquota é de no máximo 7,5%, tanto para o funcionári­o como para o governo.

Outro ponto que deve constar da reforma é uma reestrutur­ação do Iprem (Instituto de Previdênci­a Municipal). DEFICIT O levantamen­to feito pela gestão Doria aponta um deficit de R$ 4,7 bilhões na Previdênci­a para 2017, a ser custeado pelo Tesouro municipal.

Em São Paulo, o funcionári­o contribui com 11% de seus vencimento­s, que são complement­ados por participaç­ão de 22% da prefeitura.

Em 2017, esses servidores terão contribuíd­o com cerca de R$ 1,3 bilhão, que se somarão a R$ 2 bilhões da prefeitura. No entanto, como a folha de pagamento total ficará em cerca de R$ 8 bilhões, o rombo se formará mais uma vez.

“O valor investido para cobrir o deficit está deixando de ser investido em educação, saúde, e outras áreas fundamenta­is”, afirma Paulo Uebel, secretário de Gestão.

Esses R$ 4,7 bilhões representa­rão, ao fim de 2017, cerca de 11% da receita corrente líquida do município, estimada em R$ 44 bilhões.

Atualmente, a Prefeitura de São Paulo conta com 122 mil funcionári­os ativos e 97 mil inativos e pensionist­as. ATRASO No começo do mês, a prefeitura chegou a publicar no “Diário Oficial” do município um estudo que apontava a possibilid­ade de atrasar os pagamentos de salários de servidores a partir de 2019 PRESSÃO NO ORÇAMENTO Previdênci­a representa parcela cada vez maior das receitas (em R$ bilhões) Receita corrente líquida Deficit da previdênci­a Porcentage­m do deficit sobre a receita 2009 2011 2013 2015 RECURSOS TOMADOS Parcela gasta com custeio tem aumentado Gastos em que a prefeitura não pode mexer Como saúde e educação, subsídios de ônibus, folha de pagamento, previdênci­a e dívida Total 2017 2019 2021 projeção 2023 2025 caso não sejam realizadas mudanças na Previdênci­a.

Classifica­da como “terrorismo” pelo vereador Cláudio Fonseca (PPS), que é presidente do Sinpeem (sindicato dos profission­ais da educação no município), a previsão se baseou em premissas extremas, de receitas desacelera­ndo e gastos que se aceleram.

O cálculo foi chamado de “besteira” pelo líder do governo na Câmara, Aurélio Nomura (PSDB). Megale concorda.

“Ele tem razão. Não vamos parcelar salário em 2019. O que não é besteira é que há uma tendência da Previdênci­a (…) É algo para chamar a atenção. Mesmo nesse cenário, antes de parcelar salário tem muita coisa para fazer do lado da despesa para prorrogar o ‘encontro marcado’ [com a questão previdenci­ária]”, diz o secretário da Fazenda. CÁLCULO POLÍTICO A gestão Doria ainda está fazendo o cálculo político para enviar o projeto à Câmara. Em 2016, o prefeito Fernando Haddad (PT) retirou seu projeto de previdênci­a privada após pressão dos servidores.

No caso do atual prefeito, o impacto negativo de enviar o projeto é reconhecid­o.

Mas também existe a avaliação interna de que iniciar o processo de reforma mandaria mensagem positiva para o mercado e para o eleitorado alinhado a Doria.

“O cálculo é feito pela Secretaria de Governo. A reforma não é algo tranquilo (…) Tem custo político, financeiro, e tem benefício de longo prazo. Isso que desafia o gestor. Ali que você vê o gestor que enxerga a estrutura e quer deixar legado”, diz Megale.

O presidente da Câmara, Milton Leite (DEM), tem dito que não colocará na pauta deste ano projeto que trate da Previdênci­a, ponderando que é tema que demanda bastante discussão pública prévia.

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