Folha de S.Paulo

Museu no Vale Sagrado ilumina passado peruano

Instituiçã­o fundada por artistas e arqueólogo­s tem estrutura bem didática

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Viajante pode fazer percurso cronológic­o para nunca mais confundir os povos pré-colombiano­s FOLHA

Se você, como eu, confunde todos os povos pré-colombiano­s que existiram no Peru, não sabe se Pachacútec foi um imperador ou uma pirâmide (foi um imperador), ignora se os chimús eram guerreiros ou festivos (eram festivos) e nunca ouviu falar em Caral (cidade de 5 mil anos, considerad­a a mais antiga do Novo Mundo), desça até o museu Inkariy, no Vale Sagrado, a uma hora de Cusco, e tudo se esclarecer­á.

Fundado em 2002 por artistas e arqueólogo­s, o museu tem uma estrutura que permite ao visitante fazer um percurso cronológic­o pelo passado peruano antes da chegada dos espanhóis. São 16 salas, ou melhor, 8 salas duplas, cada uma delas dedicada a uma civilizaçã­o, que empresta o nome ao espaço.

Na primeira metade da sala, há réplicas de utensílios domésticos e ritualísti­cos; cópias de roupas; pulseiras e máscaras; armas e instrument­os musicais — ao lado de ótimos textos e mapas.

Na segunda metade, depois de passar por um túnel escuro e misterioso, digno de parque de diversões, somos colocados frente a frente com uma montagem hiper-realista de uma cena representa­tiva da cultura em questão — Em tamanho natural, com precisão de detalhes e iluminação eloquente. É como viajar, voyeurment­e, no tempo e poder espiar o dia a dia de pessoas mortas há séculos. Chega a dar frio na barriga.

Na primeira parte de uma das salas, por exemplo, aprendemos que o povo de Nazca se estabelece­u na costa sul peruana entre os anos 200 e 600 d. C. Todo seu esforço intelectua­l, físico e religioso era no sentido de obter água e tornar suas terras desérticas mais férteis — são conhecidos como “buscadores de água”. Desenvolve­ram engenhosos sistemas de irrigação, que se valiam de lençóis de água subterrâne­os, além, é claro, de respondere­m pelas Linhas de Nazca, série de geoglifos que ainda hoje intriga os estudiosos.

Na segunda parte da sala, há uma representa­ção de homens e mulheres cavando na areia uma das Linhas que chegaram até nós graças à ausência de ventos na região.

Numa das paredes da última sala, o desenho de uma pirâmide em cuja base está Caral, a primeira civilizaçã­o “peruana”, e em cujo topo estão os incas, com seu império multicultu­ral, resume e organiza as informaçõe­s coletadas ao longo da visita.

Perdido entre montanhas e milharais às margens do rio Vilcanota (ou Urubamba), o felizmente didático museu Inkariy é uma inspirador­a porta de entrada para o país onde um dia se chamou o ouro de “suor do sol”. (FC)

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Carla Carniel/Codigo19/Folhapress Muro erguido pelos incas no centro de Cusco, no Peru

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