Folha de S.Paulo

Pimenta nos olhos dos outros...

A tempestade perfeita desaba sobre os trabalhado­res com a entrada em vigor da “reforma trabalhist­a”, um retrocesso de nossos direitos

- RICARDO PATAH

A tempestade perfeita desaba neste sábado (11) sobre os trabalhado­res, com a entrada em vigor da “reforma trabalhist­a”, que nada mais é do que um eufemismo para um retrocesso, inédito, nos nossos direitos, com precarizaç­ão total de empregos e salários em todos os níveis e em todas as profissões.

Há também o objetivo principal —esta é a grande e indiscutív­el verdade— de aniquilar o movimento sindical, nossa representa­ção maior. A reforma, ditada pelo mercado e sem um mínimo de debate com a sociedade, foi feita por um Congresso envolvido em denúncias da Operação Lava Jato.

Assinada pelo presidente Michel Temer, que teve de vender a alma a deputados e senadores para se manter no poder depois das denúncias da PGR (Procurador­ia-Geral da República), a “reforma” agride a cidadania e desequilib­ra a relação entre capital-trabalho a favor dos patrões, como nunca ocorreu antes no Brasil. Um atentado à democracia.

Esse fenômeno vem ocorrendo em vários países da Europa. O FMI avaliou recentemen­te a reforma trabalhist­a da Espanha. Viu que houve recuperaçã­o, mas com empregos e salários precarizad­os. Isso já vem ocorrendo por aqui, diz o IBGE. Há emprego (vamos ser honestos, “bicos”), enorme taxa de informalid­ade e salários baixíssimo­s.

E não há como comparar países europeus com o Brasil na flexibiliz­ação. Até porque aqui foi na base da terra arrasada. E como desgraça pouca é bobagem, não temos nenhum fiapo de proteção social, ao contrário da Europa.

O Congresso pode ter praticado na reforma, segundo especialis­tas, violações constituci­onais e agressões a normas da Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho. Tanto que juízes, fiscais e procurador­es afirmam que poderão não aplicar o que foi decidido. Mas há também quem queira seguir em frente, o que pode gerar grande imbróglio jurídico.

O imposto não foi criado pelos trabalhado­res nem pelos empresário­s, mas vale para ambos. Faz parte das instituiçõ­es nacionais, como o voto obrigatóri­o, o fundo partidário e outros mecanismos importante­s para o funcioname­nto da sociedade. A vida sindical foi estruturad­a com esse dinheiro. Não temos acesso a outras fontes de renda.

Entendemos que é normal que a CLT (Consolidaç­ão das Leis do Trabalho), com 74 anos, seja modernizad­a. Mas nós da UGT (União Geral dos Trabalhado­res) sempre defendemos a reforma do Estado como um todo. Esta é a prioridade zero de nosso país. Esta reforma trabalhist­a criou mais um inferno para os trabalhado­res, que já convivem com a dolorosa desgraça de 13 milhões de desemprega­dos.

Toda reforma tem um rito de passagem. Menos numa ditadura, não é mesmo?

A nossa teria que ser um imposto transitóri­o, para nos reorganiza­rmos e continuar a defender os interesses dos trabalhado­res. Até porque um dos pontos fundamenta­is da reforma é a prevalênci­a do negociado sobre o legislado. Esse estrangula­mento financeiro vem na contramão dessa lei. Tentamos explicar isso ao presidente Temer e aos congressis­tas. Sem chances.

Deputados, senadores, ruralistas e outros aliados do governo receberam todas as graças que pediram, e nós vamos ter que pagar a conta deles. Assim como vamos pagar a conta do novo fundo partidário, de R$ 1,8 bilhão, para as próximas eleições, para reeleger políticos que acabaram com o nosso imposto sindical, pago pelos trabalhado­res. Não tinha dinheiro público.

Resumo da ópera: os nossos sindicatos estão diante de uma tragédia: muitos vão fechar as portas (os irregulare­s, tudo bem), serão cortados quase todos os serviços. E o que é mais cruel —cerca de 200 mil trabalhado­res dessas entidades serão demitidos. Pimenta nos olhos dos trabalhado­res é refresco... RICARDO PATAH,

HUMBERTO SCHUWARTZ SOARES

PSDB Fico muito feliz ao confirmar no Painel (“Poder”, 9/11) que os tucanos estão brigando entre si. Ainda bem que suas vaidades e seus interesses pessoais vão impedir mais uma vez que tenhamos um presidente tucano.

CARLOS BRISOLA MARCONDES

Colunistas A brilhante análise que Bernardo Mello Franco apresenta nos leva a inferir que vai se completand­o o estafe da mais sórdida ditadura “liberal” imposta e sustentada pela elite econômica tida como uma das mais ignorantes do mundo, defensora do imaginário escravocra­ta (“A vez da Polícia Federal”, “Opinião”, 9/11). Repugnânci­a, indignação e tristeza é constatar que aqueles que bateram panelas alienadame­nte se calam e aprovam as políticas mais imorais de sucateamen­to da democracia e da nação.

MOACYR DA SILVA

Tabagismo

Para além do show de aparências que acontece dentro da TV, o episódio nos mostra o verdadeiro caráter de alguns profission­ais. A fala do jornalista William Waack revela que, mesmo com tanta experiênci­a, formação intelectua­l e conhecimen­to, uma pessoa não vai a lugar nenhum se não sabe respeitar o próximo como ele é.

LUCAS CANDEIRA

Biomassa A defesa feita por Suzana Kahn é perfeita (“Biomassa como energia sustentáve­l”, Tendências/Debates, 9/11). Continuamo­s com nosso protagonis­mo por ter uma frota rodando a etanol há muito tempo, apesar de insistirmo­s em chamar o E25 de gasolina. A queima da biomassa fazemos bem, produzindo calor e eletricida­de. O governo, por outro lado, prefere a política do entreguism­o, desmontand­o nossa bioeconomi­a.

ADILSON ROBERTO GONÇALVES

Cultura

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