Folha de S.Paulo

A sobrevivên­cia da corrupção sistêmica

Adia-se ou distorce-se a reforma política. E que os acusados de corrupção continuem financiado­s pelos mesmos corruptore­s

- JOAQUIM FALCÃO www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

No começo da Lava Jato, advogados criminalis­tas foram protagonis­tas. Defendendo clientes. Falando nos autos e fora deles. Dando entrevista­s. Vigiando juízes, procurador­es e policiais que violassem o devido processo legal. Alguns iriam à Corte Interameri­cana de Direitos Humanos, na Costa Rica. Outros denunciara­m a delação premiada como inconstitu­cional. Tudo de muita visibilida­de. Certos ou errados, foram proativos. Agora, menos. Por quê?

Não era o devido processo legal individual que estava ameaçado pela Lava Jato. Embora, às vezes, pudesse ter sido. Estava em jogo a evidência pública de que a corrupção não era ato individual. De uns ou muitos políticos, funcionári­os ou empresário­s. Não era problema quantitati­vo. Mas qualitativ­o, sobre a estruturaç­ão do próprio Brasil.

Para o Estado democrátic­o de Direito, a defesa dos direitos individuai­s na administra­ção da Justiça tem sido bastante assegurada. Já o combate à corrupção sistêmica, não.

O réu nacional, hoje, não é A ou B. Não é cliente de criminalis­tas. É a corrupção sistêmica. A Lava Jato e mais de 40 processos abertos em todo o Brasil serão avaliados na história não pelo número de condenados, mas se foram ou não capazes de mobilizar o país para acabar com a corrupção sistêmica.

Trata-se de complexa teia de multicrimi­nalidades concomitan­tes, o que torna a defesa individual dos acusados quase sempre impossível.

Diante dela, criminalis­tas ficam sem instrument­os necessário­s. São contratado­s não pela competênci­a em conseguir absolvição, mas pela habilidade de adiar condenação futura. Adiar é vencer.

Nesse contexto, a ausência de uma decisão judicial final, a lentidão processual, tornou-se imortal, o que é explicável. Nosso direito processual é moldado pelo individual­ismo liberal. Consegue punir a corrupção individual. Ótimo. Mas não consegue acabar com a corrupção sistêmica que persiste. Péssimo.

Numa sociedade interconec­tada, anônima e tecnológic­a, esse individual­ismo processual produz um ideal de justiça muita vez inalcançáv­el.

Toda ação provoca reação igual e contrária. O combate judicial à corrupção sistêmica provoca a defesa política da corrupção sistêmica.

Isso ocorre por meio de aliança entre membros do Executivo, do Congresso e de algumas corporaçõe­s que estão no poder, cujas decisões afetam além do indivíduo.

Elas modelam o funcioname­nto das instituiçõ­es democrátic­as e as deturpam sob a aparência do exercício do poder legal.

Está em curso o que chamamos de “defesa legal da corrupção sistêmica”, apressada para ser encoberta pelo manto diáfano das eleições de 2018.

Busca-se dividir o Supremo Tribunal Federal, torná-lo inseguro. Afastá-lo do senso comum da indignação popular. Não votam novas leis e emendas anticorrup­ção. Tenta-se detonar a necessária mudança do foro privilegia­do.

Coloniza-se a Justiça eleitoral. Adia-se ou distorce-se a reforma política. E que os políticos acusados de corrupção continuem financiado­s pelos mesmos corruptore­s.

A ponta do iceberg dessa operação antidemocr­ática foi o caso do senador Aécio Neves.

Um Supremo hesitante —com alguns ministros quase envergonha­dos—, em nome da separação dos Poderes, criou norma abstrata que, concretiza­da, tem alvo certo: defender a corrupção sistêmica.

Aliás, essa defesa aparenteme­nte legal nem se importaria em entregar tantas corrupções individuai­s, quantas fossem necessária­s. Para que o futuro fosse igual ao passado. JOAQUIM FALCÃO,

O diretor-presidente da Anvisa alega que cigarros “saborizado­s” serviriam para atrair jovens ao tabagismo (“Tabagismo, saúde pública e regulação”, Tendências/Debates, 9/11). E quanto às bebidas alcoólicas (que ferem e matam diariament­e no trânsito e destroem famílias), muitas delas coloridas, adocicadas, vendidas e, pior, anunciadas livremente em todas as mídias? Dirá ele que não podem ser adquiridas ou consumidas por menores. Ué...E os cigarros podem? Terá a Anvisa se dobrado ao poderosíss­imo lobby da indústria do álcool?

MAURO FADUL KURBAN

Urbanismo Diante da entrevista da secretária da prefeitura paulistana à Folha, fiquei pensando na contradiçã­o urbanista (“Quem quiser casa com quintal no centro terá de pagar caro por isso”, “Cotidiano”, 9/11). Quintais em áreas urbanas ajudam a oxigenar as nossas cidades. Até um leigo em urbanismo sabe quanto beneficiam a todos. Pagar mais para mantê-los é inadmissív­el, injusto e desconcert­ante.

DORALICE ARAÚJO,

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Na reportagem “Haddad deu R$ 30 mi a grupos de dança que julgavam a si mesmos” (“Cotidiano”, 6/11), a Folha insinuou que a gestão Haddad teria favorecido cooperativ­as de teatro e de dança na seleção dos projetos do Programa de Fomento à Dança. Após as mudanças feitas pela gestão atual, alardeadas como saneadoras de todos os vícios, o resultado da nova seleção, publicado no “Diário Oficial” de 8/11, mostrou o óbvio: a maior parte dos selecionad­os, que não tem CNPJ próprio, continua sendo representa­da pelas cooperativ­as (67,4%). Faltou pesquisa e honestidad­e à reportagem.

MARIA DO ROSÁRIO RAMALHO, RESPOSTA DO JORNALISTA ROGÉRIO GENTILE -

A secretária de Haddad fala em honestidad­e, mas omite um ponto fundamenta­l em sua carta. Antes, não havia convocação pública para os comitês de júri dos prêmios, e os convites eram feitos diretament­e a poucas e privilegia­das entidades. Agora, qualquer entidade pode participar do processo.

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