Sobe tom de ataques entre Trump e CNN
Rede de TV, que sofre pressão do governo para ser vendida, coloca no ar comercial com críticas ao presidente
Embate ocorre durante tentativa de fusão de firma dona da rede com empresa de telefonia; peça gera resposta viral
Enquanto uma maçã aparece na tela, um locutor diz: “Algumas pessoas podem lhe dizer que isto é uma banana. Podem gritar e até escrever em letras maiúsculas. Mas é uma maçã. Fatos em primeiro lugar”, encerra a rede de TV CNN, acusada por Donald Trump de propagar notícias falsas, em um comercial que alfineta o presidente.
A peça, lançada há duas semanas e alvo de respostas e sátiras de conservadores que viralizaram o embate, é o penúltimo capítulo do confronto entre a rede de TV e o presidente, que nesta quarta (8) atingiu um novo patamar.
Segundo a mídia americana e o “Financial Times”, o governo Trump teria sugerido que, para a fusão da gigante Time Warner com a telefônica AT&T ocorrer, seria preciso pôr à venda o canal que hoje pertence à primeira.
Nesta quinta (9), porém, o presidente da AT&T, Randall Stephenson, negou que a venda tenha sido imposta como condição para a fusão. E afirmou que “não tem absolutamente nenhuma intenção” de vender a CNN.
A justificativa é evitar monopólios, segundo o Departamento de Justiça, ao qual cabe aprovar a fusão. Mas a longa queda de braço entre a CNN e Trump atrai suspeitas.
Ainda na campanha, Trump criticava a CNN. A poucos dias da eleição, afirmou que seu governo não iria aprovar a compra da Time Warner pela AT&T porque “é muita concentração de poder nas mãos de poucos”. “Esse é um exemplo da estrutura de poder que combato”, disse.
A declaração foi depois minimizada pelo diretor antitruste do Departamento de Justiça, Makan Delrahim, que disse não crer que a fusão re- presentasse “questão grave”.
Mas o parecer desta semana envolve em uma névoa as motivações do governo.
Reservadamente, oficiais envolvidos na negociação
Veio de lá o indiciamento do ex-chefe de campanha do presidente, Paul Manafort, por crimes como lavagem de dinheiro e fraude tributária.
Na ocasião, Trump queixou-se que a pasta se ocupasse disso em vez de investigar o envolvimento de sua ex-adversária Hillary Clinton em uma suposta fraude nas primárias democratas.
Tanto a Casa Branca quanto o Departamento de Justiça negam interferência externa no caso da AT&T e Warner.
Delrahim, da divisão antitruste, disse que “jamais foi orientado pela Casa Branca nessa ou em qualquer outra transação” sob sua análise.
Enquanto isso, grupos que reverberam as críticas de Trump à CNN atacam o comercial da rede de notícias.
Um deles, da NRA, maior lobby pró-armas dos EUA, usa o formato numa sátira com um limão: “Algumas pessoas podem lhe dizer que isto é um jornalista imparcial. Podem gritar, escrever em letras maiúsculas. Mas é um limão. Um limão amargo”.