Folha de S.Paulo

Brasileira diz que sua eleição nos EUA é resposta a criminaliz­ação de imigrantes

- SILAS MARTÍ

Menos de 600 votos fizeram história. Margareth Shepard, a primeira brasileira a conquistar um cargo eletivo nos Estados Unidos, enxerga sua campanha vitoriosa por uma das 11 cadeiras de vereador em Framingham, nos arredores de Boston, como parte da onda anti-Trump que varre os subúrbios do país.

“Minha vitória nesse momento é a resposta da cidade a essa política racista que marginaliz­a as minorias e criminaliz­a os imigrantes”, diz Shepard. “Isso está conectado a essa dinâmica nacional.”

Ela fala do repúdio às políticas do presidente Donald Trump que se manifestou nas urnas nas eleições desta semana no país, entregando os governos de Nova Jersey e Virgínia à oposição com apoio decisivo de quem vive nas bordas das grandes cidades.

Muitos deles são como os 6.000 moradores de seu distrito num subúrbio de 68 mil pessoas, grande parte delas imigrantes vindos do Brasil.

Shepard era professora no interior de Goiás quando o governo de Fernando Collor de Mello caiu em desgraça.

Em 1992, ela largou o trabalho e a atuação sindical, primeiro passo de sua dedicação à política, para tentar a sorte nos Estados Unidos, onde moravam suas primas.

“Eu vim para me alienar um pouco da política, descansar a cabeça”, lembra. “Acabei ficando e durante muitos anos não tive contato nem com o processo político daqui nem com o do Brasil.”

Em Framingham, onde estão 15 mil dos 350 mil brasileiro­s de Massachuse­tts, Shepard trabalhou como babá e faxineira até se casar com um americano —de quem depois se divorciou— e abrir uma empresa de serviços de limpeza. EMPREENDED­ORES Sua campanha à Câmara de Vereadores, aliás, foi voltada a imigrantes que, como ela, abriram seus negócios em solo americano —nas contas de Shepard, 80% do comércio em seu distrito eleitoral pertence aos brasileiro­s.

Foi por causa deles também que ela começou sua luta política em Framingham.

Há cinco anos, Shepard entrou na briga pela aprovação de uma lei que autorizari­a a emissão de carteiras de motorista a todos os imigrantes, mesmo aqueles em situação irregular —com isso, metade da população brasileira em Massachuse­tts seria beneficiad­a.

O movimento, que levou 500 militantes à sede do governo em Boston para assistir de perto à votação, fracassou. Mas Shepard, àquela altura já filiada ao Partido Democrata, não desistiu de continuar sua luta.

Enquanto não entrava de fato para o governo, ela fez campanha para a correligio­nária Hillary Clinton no ano passado e agora é tesoureira do diretório local do partido na cidadezinh­a.

Ao lado da família (além dos dois filhos, seus pais também foram viver em Framingham), ela trabalha num centro comunitári­o que presta serviços a imigrantes com o apoio de grupos católicos.

No espectro político, aliás, Shepard se distancia dos evangélico­s, outra grande comunidade de brasileiro­s em Boston e seus subúrbios, que organizou há algumas semanas a visita ao Estado de Jair Bolsonaro, pré-candidato à Presidênci­a.

“Não concordo com a política que esse senhor representa”, afirma. “Repudio quem discrimina mulheres.”

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Reprodução Margareth Shepard, brasileira eleita vereadora nos EUA

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