Decurso do tempo fortalece filme sobre bailarinas cegas
DE SÃO PAULO
À primeira vista, o documentário “Olhando para as Estrelas” insinua se restringir aos limites da comiseração, sentimento que não costuma resultar em bom cinema.
O filme acompanha as trajetórias de duas mulheres cegas que dançam na Associação Fernanda Bianchini, em São Paulo, a única escola de balé voltada para deficientes visuais de que se tem notícia.
Adulta, Geysa Macedo exerce a função de primeirabailarina da companhia enquanto a adolescente Thalia Macedo dá seus primeiros passos na escola.
Ambas possuem um perfil ao gosto dos programas de auditório e suas histórias de superação.
Na TV aberta, a emoção tende a ser ligeira e pragmática: as lágrimas jorram na tela para arrancar o choro do telespectador.
O jovem diretor Alexandre Peralta lança mão desse recurso em alguns momentos, o que evidentemente prejudica o documentário.
Por outro lado, “Olhando para as Estrelas” consegue se fortalecer com um aliado poderoso, o tempo.
O filme foi realizado ao longo de três anos, período suficiente para observar como as circunstâncias redesenham as personalidades.
Inicialmente, Geysa demonstra persistência e coragem, características que se contrapõem à sua fragilidade física.
A gravidez, contudo, a torna mais vulnerável. A promessa de felicidade, embalada com o casamento e a chegada do primeiro filho, ganha outra perspectiva.
Para Thalia, o pior da vida escolar é a hora do recreio, quando os colegas a deixam de lado. Fora de casa e da escola de balé, ela está sujeita às marcas do mundo, mas exibe força para se afastar da autopiedade e avançar para o ensino médio.
O uso desmedido de convenções dramáticas e estéticas poderia lançar o documentário no terreno dos registros dispensáveis.
É o tempo, com suas mudanças bruscas e seus ajustes quase imperceptíveis, que torna “Olhando para as Estrelas” um filme digno. (NH) DIREÇÃO Alexandre Peralta PRODUÇÃO Brasil/EUA, 2016, 90 min AVALIAÇÃO bom (BORG MCENROE) DIREÇÃO Janus Metz ELENCO Sverrir Gudnason, Shia LaBeouf e Stellan Skarsgard PRODUÇÃO Suécia, 2017, 108 min AVALIAÇÃO muito bom