Novo diretor-geral diz que polícia ampliará operações
Ao tomar posse, Segóvia afirma que fará mudanças em áreas estratégicas da PF
Indicado ao cargo com o apoio do PMDB, ele diz que atuará de forma política no contato com outros órgãos oficiais
Indicado ao cargo com apoio da cúpula do PMDB, o novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, afirmou nesta sexta-feira (10) que a corrupção no Brasil é “sistêmica” e que ampliará operações conduzidas pelo órgão, inclusive a Lava Jato.
Durante rápida cerimônia para assinatura de seu termo de posse, Segóvia afirmou que fará mudanças em áreas estratégicas da PF.
“O que a PF pretende é aumentar o combate à corrupção. Então não será só uma ampliação, uma melhoria na Lava Jato, será em todas as operações que a PF já vem empreendendo. Bem como ampliar, criar novas operações”, declarou Segóvia.
Indicado por peemedebistas, ele disse que atuará “politicamente”, mas acrescentou que isso se dará na relação com outros órgãos.
“A política, na realidade, faz parte da vida do ser humano, então, como diretorgeral, tenho que realmente trabalhar politicamente com vários órgãos, várias instituições, o que não quer dizer que a gente não combata os crimes, que são cometidos por pessoas”, completou.
A decisão do presidente Michel Temer em nomear Segóvia foi estratégica para o núcleo do governo, que desejava mudanças na condução das investigações da Lava Jato. Desde maio, com a delação de executivos da JBS, as apurações avançaram sobre o coração do Planalto e alarmaram auxiliares de Temer.
Caciques do PMDB como o ex-presidente José Sarney e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, ambos citados por delatores, foram os principais fiadores da indicação de Segóvia ao comando da PF.
Como revelou a Folha, Temer selou a nomeação do delegado em uma reunião fora de sua agenda oficial, na tarde de sábado (4), quando recebeu Segóvia e Sarney no Palácio do Jaburu.
Por meio de sua assessoria, Segóvia confirmou que esteve na residência do presidente às 17h de sábado, porém, afirma que foi ao palácio sozinho e que não se encontrou com Sarney.
A reunião aconteceu quatro dias antes da oficialização do delegado para substituir Leandro Daiello, que comandava a Polícia Federal há quase sete anos, desde o governo Dilma Rousseff (PT).
Segundo a Folha apurou, Sarney chegou ao Jaburu após reuniões entre Temer, o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral), o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), e o marqueteiro Elsinho Mouco. Todos se falaram e, depois, Temer e o ex-presidente conversaram a sós.
O Planalto não respondeu sobre o encontro fora da agenda oficial do presidente.
Apesar de a cerimônia de transmissão de cargo só estar marcada para o dia 20 de novembro, Segóvia assumiu os trabalhos na prática desde quinta (9), quando sua nomeação foi publicada no “Diário Oficial” da União.
O novo delegado-geral disse que deve fazer trocas em postos-chave da PF e que essas mudanças são “naturais”.
“Com certeza sempre tem gente que está cansada e quer sair, e tem gente que está novo e quer entrar, é natural”.
Uma das modificações envolve o posto de número dois da PF, até agora ocupado pelo delegado Rogério Galloro.
Ele era o preferido do ministro Torquato Jardim (Justiça) para assumir o comando da instituição, porém, a escolha de Temer foi feita à revelia do ministro, que tem perdido cada vez mais força dentro do governo.
Para a gestão de Segóvia, o ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Sandro Avelar é o cotado para o cargo de número dois da PF e seu braço-direito.
Candidato a deputado federal pelo PMDB em 2014, Avelar recebeu dinheiro da campanha de Temer.
Segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o ex-secretário recebeu R$ 11,6 mil do comitê de Temer, que naquele ano foi candidato a vice na chapa de Dilma.
O PMDB, por sua vez, doou R$ 236 mil. O total arrecadado pelo candidato foi, segundo o TSE, R$ 460 mil. Ele teve 21.888 votos e não conseguiu se eleger.
A reportagem tentou contato com Avelar e com Temer, mas não teve resposta.
Nesta sexta, Segóvia se reuniu na PGR com a procuradora-geral, Raquel Dodge, e alguns procuradores, para uma “visita institucional”