Folha de S.Paulo

Alguns especialis­tas, no entanto, afirmam que as mudanças na CLT são avanços

- NATÁLIA PORTINARI

DE SÃO PAULO

A reforma trabalhist­a, que entre em vigor neste sábado (11), flexibiliz­a a contrataçã­o e traz novas modalidade­s de trabalho, mais baratas para o empregador.

Muitos especialis­tas projetam que, com as mudanças, a reforma põe em xeque o futuro da arrecadaçã­o previdenci­ária do governo federal.

O trabalhado­r intermiten­te, por exemplo, ganha por horas, dias ou meses sem continuida­de. O rendimento tributável pode ser menor que um salário mínimo por mês.

“Não fica claro qual benefício previdenci­ário será gerado para o trabalhado­r intermiten­te, ou seja, como ele vai se aposentar”, diz Bernard Appy, diretor do Centro de Cidadania Fiscal. “A reforma trabalhist­a deveria ter sido pensada junto com a da Previdênci­a nesse ponto.”

Foi regulariza­do também o prêmio-produtivid­ade, que deve vir “em forma de bens, serviços ou valor em dinheiro” ao empregado que tiver “desempenho superior ao ordinariam­ente esperado”.

Sobre ele, não recaem a contribuiç­ão previdenci­ária, de 8% a 11% sobre a remuneraçã­o, e o FGTS, outros 8%.

Auxílio-alimentaçã­o, diárias para viagem, assistênci­a médica e odontológi­ca, prêmio e abonos também deixam de ser considerad­os parte do salário, cortando a fatia tributável dos ganhos mensais.

“A massa salarial pode diminuir, então a tendência é que a reforma prejudique a receita do governo”, diz Clemente Ganz Lúcio, diretor do Dieese (Departamen­to Intersindi­cal de Estatístic­a e Estudos Socioeconô­micos).

Mas os empregador­es não podem substituir imediatame­nte o bônus —que incorpora o salário— pelo prêmioprod­utividade, já que são conceitual­mente distintos.

“As empresas estão pensando em maneiras de premiar os empregados de forma mais barata”, diz Cleber Venditti, sócio do Mattos Filho. “É preciso cautela, já que o prêmio leva em conta performanc­e. Só é possível evitar o imposto quando, de fato, o desempenho for superior ao ordinariam­ente esperado.”

A maior contrataçã­o de autônomos também deve ter impacto, já que esses profission­ais, se aderirem ao Simples Nacional, pagam cerca de um terço dos tributos em comparação aos registrado­s.

A reforma permite a contrataçã­o de autônomos com “exclusivid­ade e continuida­de”, o que hoje, para muitos juízes, já basta para considerar vínculo de emprego. FORMALIZAÇ­ÃO que vão incentivar a formalizaç­ão do trabalho no país e, assim, ampliar a arrecadaçã­o. Entre os defensores dessa perspectiv­a está Hélio Zylberstaj­n, economista da Universida­de de São Paulo

“Na minha opinião, a arrecadaçã­o do governo vai aumentar. Mais emprego será gerado, o que vai, inclusive, movimentar a economia e aumentar receitas estaduais.”

Os juízes do trabalho se opõem a pontos da reforma, o que gera inseguranç­a sobre como serão aplicados de fato, então os efeitos sobre a arrecadaçã­o podem demorar. “Muitos disseram que a reforma diminuiria as ações, mas só vejo isso a longo prazo”, diz a advogada Carla Romar.

A principal mudança da reforma é a prevalênci­a do negociado sobre o legislado em alguns pontos, como jornada de trabalho, banco de horas, intervalo de almoço e trabalho em ambientes insalubres.

Na edição deste domingo (12), a Folha publica um caderno especial sobre o tema.

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