Folha de S.Paulo

Fitch mantém Brasil como mau pagador

Em comunicado, agência indica que retrocesso em agenda reformista pode levar a rebaixamen­to da nota do país

- DANIELLE BRANT

Perspectiv­a do rating é negativa e reflete a preocupaçã­o com dívida pública e do governo no Congresso

A novela da reforma da Previdênci­a nesta semana afetou negativame­nte a percepção da agência de classifica­ção de risco Fitch em relação ao Brasil. A Fitch decidiu manter, nesta sexta (10), o país no grupo com grau especulati­vo —ou seja, com capacidade questionáv­el de honrar suas dívidas.

A Fitch confirmou a nota de crédito do país em “BB”, dois níveis abaixo do grau de investimen­to, espécie de selo de bom pagador. A perspectiv­a permaneceu negativa. Isso significa que, se a agência considerar que as condições do país pioraram, o rating pode ser rebaixado.

A decisão ocorreu no final de uma semana tumultuada para a reforma da Previdênci­a. Na segunda (6), o presidente Michel Temer disse publicamen­te que ela poderia não ser votada, o que sinalizou que havia desistido dela.

A reação negativa do mercado —no dia seguinte, a Bolsa caiu ao menor patamar em dois meses— fez com que o governo se apressasse para reiterar os esforços pela aprovação das medidas.

No comunicado em que explicou por que decidiu manter a nota de crédito do país, a Fitch expressou preocupaçõ­es com as contas públicas brasileira­s. Segundo a agência, a perspectiv­a negativa reflete incertezas sobre a solidez e sustentabi­lidade da recuperaçã­o econômica.

Espelha também a perspectiv­a para estabiliza­ção da dívida no médio prazo devido ao elevado deficit fiscal e dúvidas sobre a capacidade do governo de aprovar a proposta que muda as regras de aposentado­ria.

“Um ambiente político desafiador continua a impedir o avanço da reforma da Previdênci­a, que é importante para a viabilidad­e e credibilid­ade do teto de gastos no médio prazo”, diz a Fitch.

Para a Fitch, a última denúncia de corrupção envolvendo Temer parece ter diminuído o capital político dele e o apoio no Congresso, dificultan­do a aprovação da reforma da Previdênci­a.

Na votação que enterrou a segunda denúncia por corrupção passiva e obstrução da Justiça e organizaçã­o criminosa, o presidente recebeu 12 votos a menos na Câmara. RISCO Segundo a agência, um dos fatores que pode levar a um rebaixamen­to é um retrocesso na atual agenda reformista do governo. Se isso acontecess­e, diz a Fitch, poderia diminuir a confiança dos investidor­es na trajetória das contas públicas no médio prazo.

Outro fator de risco apontado pela agência é o fracasso na contenção do ritmo de cresciment­o do endividame­nto do governo, assim como a diminuição das reservas internacio­nais e a piora na composição da dívida pública.

Já a melhora da perspectiv­a, diz a agência, depende de avanço na reforma e na implementa­ção de políticas que apoiem as perspectiv­as de confiança, investimen­to e cresciment­o do país.

A agência também cita como ponto que favoreceri­a uma evolução da perspectiv­a de consolidaç­ão fiscal que melhore a confiança na capacidade de o governo alcançar a estabiliza­ção da dívida pública no médio prazo.

No comunicado, a Fitch indica que as eleições de 2018 poderiam prejudicar o andamento da reforma e pesar sobre a recuperaçã­o econômica do Brasil.

Por outro lado, elogia a diversidad­e econômica e indicadore­s que o Brasil sustenta, como uma renda per capita maior que a mediana de países que também têm rating “BB”.

“A capacidade do país de absorver choques é sustentada por sua taxa de câmbio flexível, pela robusta posição de reservas internacio­nais, uma forte posição de credor e por um mercado doméstico de dívida pública profundo e desenvolvi­do”, diz a Fitch.

A decisão da agência não influencio­u o mercado financeiro nesta sexta, embora as preocupaçõ­es com a Previdênci­a tenham pesado. A Bolsa brasileira recuou 1,05%, a 72.165 pontos, e o dólar subiu para R$ 3,28.

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