Folha de S.Paulo

ACHADOS & PERDIDOS DA HISTÓRIA: ESCRAVOS

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Conhecido nome do segmento de divulgação histórica no Brasil, o jornalista Leandro Narloch escolheu como tema de seu novo projeto uma das principais chagas do país.

“Achados & Perdidos da História: Escravos”, que chegou às livrarias do país nesta semana, traz breves perfis de negros anônimos, mas cujas trajetória­s ilustram as diversas faces de três séculos de escravidão no Brasil.

“Se há alguma afirmação neste livro, é a de que a escravidão brasileira foi muito mais diversa, complexa e interessan­te do que imaginamos”, afirma o autor, que também é colunista da Folha, na introdução do livro.

Narloch iniciou sua carreira de escritor best-seller em 2009, ao publicar o “Guia Politicame­nte Incorreto da História do Brasil”. A ele se seguiram mais três guias: o da América Latina (2011), da História do Mundo (2013) e da Economia Brasileira (2015).

O tom mordaz da série —duro ataque ao que Narloch julga ser o predomínio do pensamento de esquerda no ensino de história nas escolas e universida­des— caiu no gosto do público. Os livros venderam 1 milhão de exemplares.

Ele conta, no entanto, que não teve a intenção de fazer da nova obra uma espécie de “guia politicame­nte incorreto da escravidão”.

“‘Achados & Perdidos da História’ é mais narrativo, menos afirmativo e polêmico. As histórias que reuni vão em todas as direções: confirmam a crueldade absurda da escravidão e mostram relações de afeto entre senhores e escravos”, diz à Folha.

A ideia de abordar a escravatur­a surgiu durante as pesquisas para o primeiro guia, quando teve acesso a alguns documentos históricos e imaginou que seria possível “elaborar um livro com biografias improvávei­s de escravos”.

Ele narra, por exemplo, casos de negros que se tornaram ricos traficante­s de escravos; de um escravo que pediu demissão a seu proprietár­io —e a conseguiu; de uma cafuza (filha de uma índia e um negro), livre, que se vendeu como escrava, possivelme­nte para escapar da fome; de um negro liberto que mandava dinheiro à viúva de seu antigo dono quando ela se encontrava em dificuldad­e financeira; de escravos asiáticos na Europa e no Brasil.

Diante de tal variedade de relatos, muitos deles na contramão da imagem que se formou a respeito desse período, surge uma indagação: esse livro pode ser interpreta­do como uma tentativa de atenuar o horror da escravidão?

“Tenho esse medo, mas, se ele me paralisass­e, não teria publicado livro algum. Não se pode cair na armadilha de atenuar um sistema cruel como a escravidão”, diz.

“Mas me incomodo com o que chamo de ‘historiado­r-inquisidor’, que estuda a história para identifica­r vítimas e culpados. Reis africanos escravista­s, senhores brancos, escravos e negros libertos estavam todos presos num costume arcaico do qual não sabiam muito bem como sair.” AUTOR Leandro Narloch EDITORA Sextante QUANTO R$ 39,90 (208 págs.)

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