Efeitos colaterais
BRASÍLIA - A expansão das fissuras do PSDB e o risco de isolamento da candidatura de Geraldo Alckmin podem obrigar os tucanos a reabrir canais com o PMDB para construir uma chapa única de centro-direita na campanha de 2018.
O governador paulista tentava equilibrar a defesa da agenda de reformas econômicas com um tom crítico ao presidente, em um esforço para se desviar da óbvia impopularidade de Michel Temer como cabo eleitoral. As turbulências domésticas, porém, devem fazê-lo recuar para remoldar seu discurso.
Sem previsão de acordo entre os tucanos que pregam uma ruptura violenta com o governo e o grupo que defende um desembarque “educado”, Alckmin tende a se apresentar como terceira via para assumir o comando do PSDB. Nesse cenário, seus auxiliares dizem que o governador deverá contemplar vozes dos dois lados —ou seja, continuará defendendo que a sigla se afaste de Temer, mas com tom mais moderado.
O plano original de Alckmin era formar uma aliança enxuta no ano que vem, sem o PMDB e as principais siglas da base de Temer, por acreditar que essa coalizão seria tóxica na disputa. A falta de unidade dos tucanos e os escândalos que envolvem o PSDB, porém, fragilizaram o partido e ampliaram a importância de uma estrutura eleitoral mais robusta.
Para Alckmin, um acordo com os partidos alinhados com Temer não traz dividendos eleitorais diretos, mas amplia sua fatia de tempo na propaganda eleitoral, contém a pulverização do centro e barra adversários que poderiam roubar seus votos.
O próprio Palácio do Planalto já refaz suas contas. Há poucos dias, o núcleo político de Temer tratava como impossível uma composição do PMDB com um candidato que se opunha abertamente o governo. Agora, os peemedebistas admitem retomar as conversas, aproveitando o enfraquecimento do PSDB para vender seu apoio nas urnas em 2018 por um preço mais alto.