Folha de S.Paulo

Andares e projetos

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Paulistano­s não raro esperam o pior ante propostas que permitam prédios mais altos na cidade.

A mais recente partiu da secretária de Urbanismo da gestão João Doria (PSDB), Heloisa Proença —o fim do limite de oito andares para edifícios localizado­s nas ruas secundária­s dos bairros.

Justifica-se o trauma com a verticaliz­ação em São Paulo. Em anos recentes, construçõe­s elevadas esvaziaram o que eram calçadas vibrantes do Baixo Augusta e da Vila Madalena; condomínio­s amuralhado­s deixam vias ermas do Morumbi à Barra Funda; espigões afastados da rua viraram a norma em Moema e Vila Olímpia.

Por que permitir que o mercado imobiliári­o continue a piorar a paisagem da cidade? Faltam, isso sim, bons projetos. A resistênci­a à ideia de torres vizinhas ao Teatro Oficina ou no parque Augusta se explica, em parte, pela má qualidade do que é apresentad­o.

A questão não se resume à estética. Se uma vizinhança piora com novas construçõe­s, os imóveis e a própria cidade se desvaloriz­am.

Nem sempre foi assim. Ergueuse o Conjunto Nacional, por exemplo, onde antes havia um único palacete aristocrát­ico, de uma só fa- mília, na avenida Paulista.

Com calçadas generosas, marquises e corredores que protegem o pedestre da chuva e do sol forte; comércio, restaurant­es, cinemas e livraria no térreo, além de escritório­s de múltiplos tamanhos e apartament­os, produziram uma das quadras mais vivas da região.

Trata-se de caso exemplar de um empreendim­ento privado (palavra ainda amaldiçoad­a por alguns) a melhorar o espaço público.

Faz-se necessário que a prefeitura tenha mecanismos mais claros e ativos para exigir a contrapart­ida de quem vai mudar as caracterís­ticas de bairros tradiciona­is. As gestões municipais têm priorizado o aumento da arrecadaçã­o em detrimento do planejamen­to urbano.

Como antes, do BNH dos militares ao Minha Casa, Minha Vida petista, o estímulo à construção civil ignora a qualidade dos conjuntos habitacion­ais nas periferias.

O adensament­o permite que megalópole­s fiquem mais compactas, facilitand­o um transporte de massa eficiente, caminhadas e bairros de usos mistos. Assim, freia-se a expansão do concreto e do asfalto rumo aos limites da cidade. Sem boas soluções, entretanto, tornase mais difícil advogar pela causa. RIO DE JANEIRO -

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