Folha de S.Paulo

A fotografia do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) caminhando com o semblante preocupa-

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do em direção ao avião que o levaria para Curitiba, em 19 de outubro de 2016, pode ser o registro em imagem da morte da sua carreira política.

Graças a uma decisão do juiz federal Sergio Moro, o exdeputado trocaria naquele momento os gabinetes de Brasília por uma cela de cadeia do Paraná.

Um passo atrás aparece no retrato o agente da Polícia Federal Lucas Valença. A pinta de galã despertou curiosidad­e.

O coque amarrado no topo da cabeça, no estilo samurai, e a barba cerrada renderam os apelidos de Lenhador da Federal e Hipster da Federal —estrangeir­ismo inglês que define a pessoa que inventa moda. A cena no aeroporto da capital pode ser a certidão de nascimento da sua carreira política. O hipster pensa em ser deputado.

Assim como Valença, cerca de 30 agentes e delegados da PF pretendem se aventurar nas eleições de 2018.

A Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais), que representa todas as carreiras da PF, já contabiliz­ou 24 pré-candidatos ligados à instituiçã­o em 18 Estados. A Folha encontrou outros que não estão na lista da federação.

Curiosamen­te é o Paraná, berço da Lava Jato, o Estado que vai ter o maior número de concorrent­es policiais federais. Até agora cinco delegados e agentes já manifestar­am a intenção de concorrer. Se depender da federação, a lista ainda vai aumentar.

Os sindicalis­tas tentam convencer Newton Ishii, que ficou célebre como o “Japonês da Federal”, a competir por uma vaga na Câmara. Como Ishii foi condenado em última instância por facilitaçã­o ao contraband­o, a entidade consultou dois escritório­s especializ­ados em legislação eleitoral para saber se ele seria enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

Segundo os advogados, até o início da campanha ele já terá cumprido toda a pena e estaria livre para tentar carreira em Brasília. O agente, no entanto, resiste à ideia.

Sem o Japonês da Federal na disputa, nenhum outro candidato terá trabalhado diretament­e na Lava Jato. Isso não quer dizer que a operação não vá ser tema de campanha.

O delegado e deputado federal Fernando Francischi­ni (SD-PR), pretende concorrer BANCADA DA BALA O sucesso das candidatur­as de policiais deve significar o aumento da bancada da bala no Congresso. A maior parte deles comunga da ideia de que é preciso facilitar o acesso do cidadão às armas de fogo.

Um expoente desse pensamento é o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), filho do pré candidato à Presidênci­a Jair Bolsonaro, que repete a exaustão que “bandido só respeita o cidadão armado”. A proposta de reduzir maioridade penal também anima a maioria dos policiais.

Apesar da afinidade com essas pautas, não há um partido que concentre esses candidatos. O leque das legendas escolhidas pelos policiais é amplo e inclui siglas atingidas em cheio pela Lava Jato.

O agente André Salineiro elegeu-se vereador de Campo Grande (MS) e agora cogita tentar vaga na Assembleia. Nas redes sociais posa heroico, de braços cruzados, vestindo a camisa preta da PF. Na vida política, porém, a camisa que veste é a do PSDB, ainda presidido pelo mineiro Aécio Neves, conhecido alvo dos policiais da Lava Jato.

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Pedro Ladeira - 19.out.2016/Folhapress Lucas Valença, o ‘Lenhador da Federal’ (à esquerda), escolta Eduardo Cunha em 2016

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