A direita europeia e o PSDB
DEPOIS DA crise financeira de 2008, muito se falou de uma ameaça que pairava sobre a politica europeia: a falência dos principais partidos de centro-esquerda.
Deste então, o campo progressista tem procurado se reinventar por diferentes caminhos: a frente ampla portuguesa, a guinada radical dos trabalhistas britânicos sob Jeremy Corbyn, e a gradual substituição de partidos com um aparato mais tradicional por novos movimentos, mais horizontais e dinâmicos, como o espanhol Podemos e a França Insubmissa.
Agora, o risco de obsolescência foi transferido para a porta ao lado. São os partidos de centro-direita que se encontram em uma espiral descendente. Essa ideia pode parecer absurda, tendo em conta que especialistas antecipavam uma vasta maré conservadora até pouco tempo atrás. Porém, até agora, a direita republicana tem se mostrado incapaz de lidar com três problemas fundamentais.
O primeiro é a dificuldade em aceitar que a emergência de lideranças como Emmanuel Macron não são uma anomalia, mas uma mudança de paradigma que altera o sistema político-partidário tal como conhecemos. Com efeito, Macron, que despontou na política quando era membro do Partido Socialista francês, deu espaço no governo para os principais quadros conservadores, que arrastaram consigo o seu eleitorado tradicional.
O segundo problema é que o vazio ideológico não era tão visível quando o papel da centro-direita se resumia a substituir o da centro-esquerda no habitual sistema de rotação das democracias representativas, sem grandes diferenças de programa ou de prioridade. Dentro do novo paradigma, a centro-direita só se destaca pelo seu anseio em ir além nas medidas de austeridade impostas pela União Europeia.
O terceiro problema é o mais perigoso. Os líderes de centro-direita se recusam a assumir responsabilidade pela ascensão dos candidatos populistas-nacionalistas. Antes pelo contrário: eles continuam tentando incorporar nos seus programas o ideário da extrema-direita.
François Fillon, candidato de centro-direita contra Macron, deu destaque ao grupo ultraconservador Senso Comum numa tentativa desesperada de desviar o foco das acusações de corrupção. Por conseguinte, os eleitores dividiram os seus votos entre Marine Le Pen, a rival de extrema-direita, e Macron. Uma humilhação histórica para o partido de Fillon, que se estimava o detentor natural do poder na França.
No Brasil, dirigentes do PSDB optaram por apoiar Aécio Neves, que está disposto a prejudicar o partido para atingir objetivos pessoais. Uma solução menos dolorosa do que o enfrentamento das causas estruturais da decadência do partido, mas potencialmente mais grave: o PSDB não só corre o risco de ser ultrapassado pelo centro como também de perder eleitorado para os extremos.
Se acabarem como cabos eleitorais de Jair Bolsonaro em 2018, seus dirigentes serão lembrados como sabotadores da direita republicana.
O tradicional partido vive crise de identidade semelhante à das legendas conservadoras na Europa