De despachante de viagens a juiz de direito
No quarto ano da faculdade de direito, Paulo Jorge Scartezzini se viu diante de um impasse: ou galgava a hierarquia da Varig, largando o balcão do aeroporto para tornar-se promotor de vendas, ou dava uma última chance à área do pai, advogado, e da mãe, procuradora.
Ele gostava de trabalhar para uma companhia aérea. A despeito de ter que lidar com reclamações em casos de bagagens com excesso de peso ou tomar chuva ao conferir bilhetes ao pé das escadas de beira de avião, ganhava passagens de graça para onde quisesse.
Antes de bater o martelo (atividade que viria a exercer depois), resolveu estagiar num escritório de advocacia.
A prática despertou um interesse inexistente na sala de aula: Paulo decidiu seguir carreira na lei e, dois anos após se formar, tomou posse como juiz no Tribunal de Justiça de São Paulo —precoce, completaria 26 anos de magistratura no final deste ano.
Ficar trancado no gabinete não combinava com sua índole itinerante. Continuou circulando mundo afora —só para a Ásia, foi cinco vezes. “Acho que se tivesse tido tempo de se aposentar ele escreveria sobre viagens”, palpita o primo Cid, companheiro no caminho de Santiago de Compostela, seu último giro.
Titular da 4ª Vara do Fórum de Pinheiros e bem quisto pela comunidade jurídica, não tinha a sisudez que às vezes se atribui às autoridades. “Era discreto, andava de chinelos. Ninguém diria que era juiz”, afirma a mulher, Elaine.
Morreu neste sábado (11), aos 52, de complicações de um tumor. Deixa mulher e quatro filhas —duas de criação. coluna.obituario@grupofolha.com.br 2º ANO 22º ANO