80 ANOS DE JOÃO ANTÔNIO
acredita o pesquisador, provavelmente se deve à situação política da época —junto ao texto, havia um bilhete assinado por Paulo Patarra (1933-2008) sugerindo que o escritor o “guardasse”.
Julio Bastoni da Silva lembra que a revista “Realidade” vendia muito bem, mas que já tinha sofrido sanções dos militares por conta de algumas reportagens.
“Em dezembro de 1968, veio o AI-5 e, como se sabe, a equipe foi dissolvida depois disso”, diz o pesquisador.
“As cartas a Ilka posteriores ao AI-5 são de profundo desalento, de vontade de deixar São Paulo e voltar ao Rio”, acrescenta, lembrando ainda que entre 1963 —ano do retumbante sucesso de “Malagueta, Perus e Bacanaço”, que levou na estreia dois prêmios Jabuti— e 1975, João Antônio não publicou nem um livro sequer.
“O conto é a prova de que, mesmo sem ter publicado livros naquele período, ele continuava a produzir ficção, não só reportagens ou crônicas”, completa Bastoni da Silva.
Para a pesquisadora Clara Ávila Ornellas, do programa de pós-graduação em estudos comparados de literaturas de língua portuguesa da USP e uma das organizadoras do seminário, o achado amplia as possibilidades de estudo sobre o escritor.
“Trata-se de tema estranho à produção já conhecida, é uma espécie de aprendizado
JULIO CEZAR BASTONI DA SILVA,
pesquisador que encontrou ‘Dia de Bomba’ no arquivo do escritor
O conto [possivelmente de 1968] é a prova de que, mesmo sem ter publicado livros naquele período [entre 1963 e 1975], ele continuava a produzir ficção, não só reportagens ou crônicas
político do protagonista em plena ditadura militar brasileira. Semelhante perspectiva faz-nos refletir, por exemplo, sobre até que ponto o homem brasileiro pode suportar um estado de opressão contínua”, conclui Ornellas.
Depois de ser recuperada pela Cosac Naify —que reeditou em 2012 clássicos de João Antônio, como “Ô, Copacabana” e “Abraçado ao Meu Rancor”, além de ter reunido todos seus contos conhecidos—, a obra de João Antônio será relançada pela editora 34 no ano que vem. QUANDO 16 e 17 de novembro ONDE Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (prédio das Ciências Sociais, sala 08, e prédio de Letras, salas 230, 231, 232 e 234) QUANTO inscrições encerradas