Folha de S.Paulo

Brasil em missões de paz: a cobra fumando

Passada a operação no Haiti, mais do que nunca, a ONU precisa das habilidade­s, do capital humano e da coragem dos pacificado­res brasileiro­s

- VIJAY RANGARAJAN E MICHEL MIRAILLET

Havia um ditado, popular no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial, que dizia: “mais fácil uma cobra fumar um cachimbo do que a FEB embarcar para o combate”. De fato, antes de a Força Expedicion­ária Brasileira entrar em combate na Itália, a expressão “a cobra vai fumar” era constantem­ente usada para descrever algo improvável.

A FEB, contudo, conseguiu rebater as críticas e inverter a situação, tornando-se uma força militar forte e profission­al. Passaram a se chamar de Cobras Fumantes e a vestir um símbolo que mostrava uma cobra fumando um cachimbo. Hoje, quando consideram­os a liderança militar brasileira em missões de paz, essa expressão ainda tem uma conotação positiva.

O ano de 2017 testemunho­u o fim e o sucesso da Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabiliza­ção do Haiti), a maior missão de paz brasileira: foram 13 anos, 13 parceiros regionais e 37.000 oficiais brasileiro­s. Neste 15 de novembro, o ministro da Defesa do Brasil, Raul Jungmann, se encontrará em Vancouver com colegas de mais de 80 países e organizaçõ­es para fortalecer futuras missões de paz da ONU.

O Reino Unido e a França estarão lá para reforçar a importânci­a da participaç­ão do Brasil, já que este ano marca os 70 anos de participaç­ão brasileira em operações de missões de paz. Isso representa um grande feito e uma enorme contribuiç­ão para a paz mundial.

A comunidade internacio­nal percorreu um longo caminho desde as primeiras missões de paz, e o objetivo continua atemporal: tirar países de conflitos. No entanto, missões como a Minustah demonstram o quão mais avançadas e eficazes as missões de paz se tornaram.

Sem descartar a possibilid­ade de fazer uso da força quando necessário, os pacificado­res brasileiro­s, com sua famosa “diplomacia do futebol”, trabalhara­m com comunidade­s locais para recuperar o poder de Cité Soleil das gangues armadas e reconstrui­r a força da polícia haitiana. Eles focaram nas raízes do conflito e abriram as portas para a cooperação em agricultur­a, infraestru­tura e saúde.

A força em números ajudou, mas a lição que o Brasil demonstrou a todos os países contribuin­tes de tropas foi que treinament­o importa. Sem isso, teria sido impossível para os pacificado­res brasileiro­s superar os desafios de múltiplos desastres humanitári­os.

É por meio do excelente centro de treinament­o para missões de paz no Rio, o CCOPAB (Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil), que o Brasil continua a compartilh­ar lições com o mundo e garantir que novas questões, como gênero, sejam incorporad­as ao treinament­o para missões de paz. Temos orgulho do trabalho que a França e o Reino Unido vêm realizando com o CCOPAB nesse sentido.

Conquanto tudo isso deva, certamente, ser celebrado, não estamos falando, ainda, em “missão cumprida”. Há, e continuará a haver, países com necessidad­e urgente de missões de paz. A África continua sendo um dos principais cenários para operações de paz, de Mali ao Sudão, da República Centro-Africana à Somália. E, no centro de tudo isso, estão os civis, que são afetados por conflitos, guerra e desastres. Todos compartilh­amos a ambição de minimizar seu sofrimento.

É por essa razão que agora, mais do nunca, as Nações Unidas precisam das habilidade­s, do capital humano e da coragem dos pacificado­res brasileiro­s —para “os cobras” continuare­m fumando. VIJAY RANGARAJAN MICHEL MIRAILLET,

Enquanto isso, o Rio vive seu pior momento na saúde, na educação e na segurança, fora os salários atrasados dos funcionári­os públicos. Será que isso vai ter fim um dia?

HELIO MARCENGO

A República do Brasil é um golpe consumado desde 1889. O povo precisa rever a mentirada que aprendeu na escola. As famílias conspirado­ras continuam por aí, avançadas nos palácios graças à ignorância popular.

MARCOS A. T. GARCIA

Dilma Rousseff

Reli o texto “A aurora de uma nova justiça” (“Poder”, 14/11) achando tratar-se de alguma brincadeir­a ou ironia. O mais estarreced­or não é o colunista Joel Pinheiro da Fonseca lamentar não existir uma tecnologia que devasse “os recônditos secretos da mente”, e sim a sua iminência. Há monstros entre nós, caro Joel? O mais correto não seria “há monstros em todos nós”?

MARCELO CARVALHO SIQUEIRA

Sobre a coluna de Marcus André Melo (“Procurando Marcon”, “Opinião”, 13/11), creio que Macron foi eleito não pelas suas propostas, mas por falta de alternativ­as. Tanto é que a oposição às suas propostas só faz aumentar. A questão é do sistema. Nas democracia­s de voto, o novo governo não se sente obrigado a dar continuida­de aos projetos do anterior. Pelo contrário, faz questão de descontinu­á-los, como tenta fazer Trump com o legado de Obama. Ainda que houvesse projetos nacionais, essa irracional­idade tenderia a persistir.

CLOVES OLIVEIRA

Viagens

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