Folha de S.Paulo

Novo diretor da PF defende sigilo de delações

Fernando Segovia promete trabalhar ‘em silêncio’ e critica ‘vaidade’ de Rodrigo Janot

- RUBENS VALENTE

O novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, disse que o órgão vai trabalhar “em silêncio” e “em busca de provas” para blindar as investigaç­ões de pressões externas. Para o delegado, os casos criminais só deveriam vir a público a partir de uma decisão judicial pelo fim do sigilo processual.

Em entrevista à Folha eoutros veículos nesta terça (14) em seu gabinete, Segovia afirmou que discutiu o assunto com a procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, em reunião de quase três horas na semana passada.

“Fomos uníssonos nesse assunto. O que vai nos blindar principalm­ente é o nosso trabalho, sério, o tempo todo. E com o sigilo dessas investigaç­ões ninguém vai saber o que está acontecend­o. Nós faremos todas as investigaç­ões com sigilo e, no momento adequado, o juiz, que é o detentor do resultado do nosso trabalho, vai saber bem me- lhor quebrar esse sigilo.”

Falando em “parceria”, Segovia pregou mudança na relação entre PF e Ministério Público Federal, que durante a gestão do ex-procurador­geral da República Rodrigo Janot (2013-2017) foi marcada por atritos.

Defendeu ainda que as autoridade­s se “dispam do orgulho e da vaidade”.

“Ela [autoridade] acha que é o ícone, que aparece ali na frente da televisão e está resolvendo o problema para o Brasil, e não é. São centenas de pessoas trabalhand­o.”

Indagado se estava se referindo a Janot, o delegado disse que ele seria um exemplo. “Mostrou ao Brasil talvez uma face que espero que tenha ficado no passado, desse orgulho, dessa vaidade”.

Segovia também defendeu mais “união” entre os próprios policiais federais.

As diversas carreiras que formam a Polícia Federal estão “em guerra interna”, segundo o delegado, que teria sido estimulada por pessoas interessad­as em enfraquece­r a capacidade de investigaç­ão do órgão.

O diretor disse que está sendo analisada a ampliação da equipe de policiais federais hoje destacada para tratar dos inquéritos sobre políticos com foro privilegia­do nos tribunais superiores. Mencionou que há reclamação de ministros do STF para dar celeridade nos casos.

Segovia disse que não mantém relações com o ministro Eliseu Padilha (PMDBRS) ou com ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), com quem só teria conversado durante uma solenidade, e que só conheceu o ministro do TCU Augusto Nardes para discutir o projeto de criação de um gabinete de segurança institucio­nal no tribunal apoiado pela direção da PF. A imprensa atribuiu aos três a indicação do diretor para o cargo.

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Pedro Ladeira/Folhapress O novo diretor geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia

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