Folha de S.Paulo

Instrução maior eleva fosso salarial entre branco e negro

Discrimina­ção é barreira mesmo com diploma, diz pesquisa da Seade e do Dieese

- FLAVIA LIMA

Negrocomní­vel superior ganhou 65% do recebido por branco em 2016, diferença mais alta de levantamen­to

A diferença salarial entre negros e brancos cresce conforme aumenta a escolarida­de dos dois grupos, indica pesquisa da Fundação Seade em conjunto com o Dieese.

Na região metropolit­ana de São Paulo, o rendimento entre negros e brancos com ensino médio incompleto foi similar no ano passado.

No médio completo, negros ganharam 85% do auferido por brancos, mas, no nível superior, a disparidad­e foi maior: negros receberam apenas 65% do obtido por brancos em igual condição.

Os dados contrariam o senso comum de que, quanto maior a escolarida­de, menores as diferenças entre os grupos. Eles mostram ainda que, para os negros, concluir o ensino superior é apenas um dos obstáculos para obter um emprego de melhor qualidade e sugerem que as barreiras que impedem o grupo de progredir na carreira profission­al seguem firmes.

Os negros também têm que lidar com desemprego mais alto do que o da população branca (respectiva­mente 19,4% e 15,2% em 2016), além de, no geral, ter um rendi- Diferença salarial entre negros e não negros cresce conforme o aumento da escolarida­de Fonte: Seade e Dieese mento médio equivalent­e a 68% do salário dos brancos.

Mas, se essas duas variáveis podem ser explicadas pelo contingent­e maior de trabalhado­res negros em setores que sofreram mais com a crise —como a construção civil e os serviços— ou em ocupações menos qualificad­as —como o trabalho doméstico—, o que dizer da diferença salarial mais profunda à medida que aumenta a escolarida­de entre os dois grupos?

“Quando se olha o conjunto da obra, é impossível negar que prevalece uma dose de discrimina­ção racial”, afirma Alexandre Loloian, economista da Fundação Seade responsáve­l pelo estudo.

Um indício disso é que há diferenças relevantes na presença de negros e brancos no topo do mercado de trabalho.

Em 2016, 37% dos ocupados negros com ensino superior estavam no grupo de direção, gerência e planejamen­to; os não negros nesse grupo eram 51%. Já entre os que desenvolvi­am tarefas de execução e apoio, os negros eram quase 60%, em comparação a 46% dos não negros.

“O negro jardineiro ou doméstico está no lugar socialment­e esperado”, diz Marcelo Paixão, professor da Universida­de do Texas em Austin (EUA). O que não ocorreria em postos de comando ou de contato com o público.

Numa sociedade que classifica conforme a aparência, aos negros são reservados cargos de menor prestígio.

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