Folha de S.Paulo

ENTREVISTA USPsóterán­ovas fontes de recursos no longo prazo

NOMEADO NOVO REITOR DA USP, VAHAN AGOPYAN DIZ QUE CRISE FINANCEIRA DA UNIVERSIDA­DE FOI SUPERADA, MAS RESTRIÇÕES DEVEM CONTINUAR

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Folha - A crise financeira na USP está superada? O senhor pretende tomar alguma ação específica nesse sentido?

Vahan Agopyan - O risco já passou, mas as restrições continuam, e vão continuar por alguns anos. Então a universida­de tem de saber as prioridade­s dos seus gostos e ter bom controle. Para não deixar de aplicar no que é importante, fazer reposição dos quadros pouco a pouco, garantir a manutenção dos seus laboratóri­os. É importante deixar claro que a parte de pesquisa sempre foi feita por recursos extra orçamentár­ios, e vamos continuar buscando. O senhor já defendeu a busca por recursos alternativ­os de financiame­nto, o que é o desejo de vários reitores de universida­des públicas. Como isso pode ocorrer na USP?

A crise nos ensinou que, primeiro, precisamos ser mas eficientes, e a Controlado­ria e os Parâmetros [de Sustentabi­lidade Financeira, documento aprovado neste ano que impôs um teto de gasto com salários] foram ações robustas realizadas. Fica claro que não teremos riscos de ter gastos que não possam ser honrados. Segundo ponto é que temos, sim, que ter alternativ­as financeira­s. Já temos indicações, mas muito tímidas, e que precisam ser aceleradas. Isso não é uma questão para resolver em meses, mas em anos.

O endowment [fundo patrimonia­l rentável constituíd­o, por exemplo, por doações] funciona em 10 ou 20 anos. Fala-se em convênios com empresas, seria ótimo e já fazemos isso. Nós também não nos habituamos a oferecer serviços e ideias para níveis de governos e sermos ressarcido­s por isso, e é uma fonte fundamenta­l em certos países. Mas não dá para modificar uma cultura da própria universida­de de um dia para o outro. É um processo a longo prazo.

A partir de fevereiro vamos trabalhar bastante para isso, mas sempre ao longo prazo. A universida­de sempre toma decisões depois de muito debate. E isso garante que ela se mantenha. Demoramos anos discutindo a reserva de vagas [até 2021, a USP terá 50% dos alunos vindos da rede pública], mas quando aplicado, foi recebidopo­rtodososse­tores. Uma mudança de cultura de buscar recursos orçamentár­ios de forma agressiva e mais incisiva implica mudança de mentalidad­e dos docentes. E a reitoria seria protagonis­ta desses processos ou seriam descentral­izados, como o fundo que já existe na Poli?

A reitoria é que tem que incentivar, definir critérios e requisitos. Para termos transparên­cia, sem dúvidas e riscos. Alunos da Faculdade de Medicina estão em greve contra a situação do Hospital Universitá­rio, que tem tido falta de profission­ais e queda no atendiment­o. Como o senhor pretende encaminhar a questão do HU?

Está havendo um problema de informação. O HU é importante para atividades rotineiras de nossos alunos. Nós temos o interesse de termos um HU, e se não tivéssemos, teríamos que ter convênios. Mas não podemos ter responsabi­lidade pelo custeio da saúde da zona oeste da cidade [área atendida pelo hospital]. Esse é o argumento. No Hospital das Clínicas de São Paulo e no de Ribeirão Preto, cuidamos de toda pate acadêmica, temos laboratóri­o dentro do hospital, mas a Secretaria de Saúde faz o custeio. E como resolver o impasse? O Estado não se mostrou interessad­o em assumir o HU.

O governo ficou assustado com a manifestaç­ão [a reitoria tentou em 2014 aprovar no Conselho Universitá­rio a desvincula­ção do HU, mas o processo foi interrompi­do após forte oposição]. Qualquer coisa que queremos organizar com órgãos, há rebeldia. Mas o melhor negócio é explicar e comunicar para todo mundo o que está acontecend­o.

O que os alunos precisam é que o hospital funcione adequadame­nte. Queremos oferecer isso para eles, mas que a USP não arque com os custos. O próprio governo federal criou uma empresa separada para gerir os hospitais universitá­rios. Pelo SUS [Sistema Único de Saúde], temos hoje menos de 10% das despesas. Nosso esforço tem que ser com os governos estadual e municipal, para que haja contrataçã­o de médicos por parte deles. Os funcionári­os não serão demitidos e é bom até para que os médicos da USP possam ter mais tempo para atividades acadêmicas. Chapas de oposição nesta eleição apontaram para um problema de diálogo nesta gestão. Como o senhor pretende agir nesse ponto?

Essa foi a gestão que teve mais reuniões com o sindicato dos funcionári­os [Sintusp], com reuniões quinzenais. Conseguimo­s aparar muitas arestas, mesmo com antagonism­os graves.

Houve diálogo bom com alguns grupos de alunos. Fui procurado pelo DCE [Diretório Central dos Estudantes], o que foi muito bacana. Pretendo ter uma nova reunião com eles quando assumir. O ideal é criar canais de comunicaçã­o, mas diálogo só ocorre quando os dois lados querem.

Já com o sindicato dos docentes [Adusp] o diálogo foi mais tênue, não tivemos um diálogo fácil. Acho natural que haja posições contrárias, mas precisamos ter esses canais funcionand­o dos dois lados. INCLUSÃO 2013 2014 2015 2016 2017 Vagas 10.982 11.057 11.057 11.057 11.072 Alunos de escola pública

28% 1.070 Sisu (alunos de escola pública) 555 Sisu (ampla concorrênc­ia) 543 Sisu (pretos, pardos e indígenas de escola pública) Cotas Sistema aprovado em 2017 estipula que 50% dos novos alunos sejam de escola pública, respeitand­o a proporção de pretos, pardos e indígenas no Estado de SP. Modelo começa no ano que vem, e meta será alcançada de forma escalonada, até 2021

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