Folha de S.Paulo

Câmara ‘enforca’ semana de feriado e adia plano de Doria

Prefeito quer autorizaçã­o para privatizar Interlagos e Anhembi ainda em 2017

- GUILHERME SETO

Justiça de SP derrubou liminar de vereador tucano que suspendia avanço na venda do autódromo na zona sul

A Câmara de São Paulo “enforcou” a semana do feriado.

Os vereadores derrubaram as sessões extraordin­árias, o que significa que não haverá nenhuma votação durante a semana, no momento em que o prefeito João Doria (PSDB) tenta conseguir a aprovação de diferentes projetos de seu pacote de privatizaç­ões.

A sessão ordinária de quinta-feira (16), na qual não há votação, mas anúncios e debates, também foi desconvoca­da, o que significa que as atividades em plenário —as mais destacadas dos vereadores— também não irão ocorrer nesta semana.

A coincidênc­ia com o feriado desta quarta-feira (15) incomodou alguns vereadores que gostariam de aproveitar a semana de maneira mais produtiva.

“Emendou [o feriado]. Espero não ficar sozinho na importante audiência pública da Política Municipal de Prevenção e Combate à Corrupção”, disse o vereador Police Neto (PSD).

“Como tem um feriadão na quarta, sabemos que tem alguns que marcam compromiss­os e então temos que resolver tudo na terça (...) Assinaram um requerimen­to e agora morreu a semana”, disse o vereador Caio Miranda (PSB), que cumprirá agenda no feriado.

Para a desconvoca­ção das sessões, são necessária­s 28 assinatura­s de vereadores dentre os 55 da Casa, que foram conquistad­as nesta terça (14).

Líder do governo na Câmara, o vereador Aurélio Nomu-

CAIO MIRANDA

vereador (PSB)

POLICE NETO

vereador (PSD) ra (PSDB) diz que as votações não acontecerã­o porque algumas negociaçõe­s entre a prefeitura e os vereadores sobre a aprovação de projetos de lei não têm evoluído em velocidade satisfatór­ia.

“Não estamos adiantados como gostaríamo­s, mas dependemos de posições do governo que ainda não chegaram. Estava no cronograma que votássemos projetos de vereadores nesta semana, só que não recebemos a garantia de sanção de alguns projetoseo­svereadore­spreferira­m aguardar as tratativas”, disse Nomura.

Police confirma que a negociação entre Executivo e Legislativ­o foi um obstáculo também, para além do desejo de alguns de ter um feriado prolongado.

“O líder do governo [Nomura] tem tantas dívidas junto ao processo legislativ­o de matéria de autoria dos parlamenta­res que desarticul­ar a reunião foi melhor que mais uma vez só dar desculpas”, afirmou.

Vários projetos do Executivo estão na fila para votação na Câmara. O projeto de privatizaç­ão do complexo do Anhembi precisa passar em segunda votação, assim como o do autódromo de Interlagos, que são prioridade­s de Doria. Além deles, a Câmara ainda precisa aprovar o projeto de lei do Orçamento.

“Estive com o prefeito, e ele tem o desejo grande de conseguir as aprovações em segunda votação do Anhembi e de Interlagos ainda em 2017”, afirma Wilson Poit, secretário de Desestatiz­ações e Parcerias, que nesta terça-feira (14) comemorou a liberação na Justiça para a alienação do autódromo.

O vereador Mário Covas Neto (PSDB) havia feito pedido para interrompe­r o processo sob o argumento de que a aprovação do projeto não tinha seguido os trâmites obrigatóri­os na Câmara.

A justificat­iva dada pelo juiz para derrubar a liminar foi a de que, após esclarecim­entos da Câmara, constatou-se que não houve violação ao regimento interno.

Também é do interesse da prefeitura a aprovação do projeto de lei do presidente da Câmara, Milton Leite (DEM), que estabelece prazo para a substituiç­ão da matriz energética da frota de ônibus de São Paulo e prevê a volta da inspeção veicular.

A gestão Doria depende da aprovação desse projeto para que possa lançar o novo edital da concorrênc­ia para exploração do sistema municipal de ônibus.

Doria trava disputa interna no PSDB com o governador Geraldo Alckmin para a escolha do candidato do partido nas eleições à Presidênci­a no ano que vem. Alckmin teve papel decisivo na escolha de Doria como candidato tucano na disputa municipal.

Para ser candidato ao Planalto ou ao governo paulista em 2018, o prefeito terá de deixar o cargo até o início de abril.

Procurado para falar sobre a semana sem sessões, o presidente da Câmara se pronunciou­pormeioden­otadaasses­soria de imprensa.

“O trabalho da Câmara Municipal de São Paulo não se resume às sessões plenárias. O Legislativ­o paulistano realiza diariament­e reuniões ordinárias das sete comissões permanente­s, de outras cinco comissões extraordin­árias, das três CPIs, audiências públicas, além do trabalho parlamenta­r de cada vereador (com atividades no gabinete, visitas e reuniões externas, etc.).”

Como tem um feriadão, sabemos que alguns marcam compromiss­os e então temos que resolver tudo na terça (...) Assinaram um requerimen­to, e agora morreu a semana Emendou [o feriado]! Espero não ficar sozinho na audiência pública da Política de Combate à Corrupção

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Autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo

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