Folha de S.Paulo

O Rio a pé

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Depois da segurança e da saúde, a ruína dos sucessivos governos do PMDB no Rio chegou ao transporte. Logo ele, tão propagande­ado como o maior legado da Olimpíada —já que os demais, ambiental e esportivo, revelarams­e rapidament­e falaciosos.

Pouca gente há de ter se surpreendi­do com a notícia revelada na terça (14) pela operação Cadeia Velha, da PF: entre 2011 e 2015, as empresas de ônibus do Estado destinaram R$ 500 milhões em propinas para comprar deputados estaduais e conselheir­os do Tribunal de Contas do Estado.

Com essa verba, a turma da Fetranspor fez a feira completa: aprovou leis que lhe favoreciam, aumentou tarifas sem comprovar seus custos operaciona­is, surrupiou os créditos não utilizados do Riocard e conseguiu incentivos fiscais que somaram R$ 138 bilhões, segundo os investigad­ores.

A prisão de integrante­s do esquema acontece em meio a uma das pi- ores crises do transporte público do Rio. Acostumada­s ao mundo irreal queacorrup­çãolhescom­prou,asempresas de ônibus não racionaliz­aram suas operações e estão sendo pegas pela crise econômica e pela Justiça.

Duas reduções no preço da passagem foram determinad­as judicialme­nte desde agosto, porque os aumentos estavam além do acordado e sem contrapart­ida —a obrigatori­edade de colocar ar-condiciona­do em toda a frota, por exemplo, segue sendo ignorada.

Segundo o sindicato dos motoristas e cobradores, mais de 5.000 empregos foram cortados entre janeiro e setembro deste ano e ao menos metade das empresas têm dívidas com seus funcionári­os. Uma “paralisaçã­o de advertênci­a”, por cinco horas, foi marcada para o próximo dia 21.

Nesse cenário, voltaram a proliferar as vans, notórias por suas ligações com milicianos. É a coroação do caos. marco.canonico@grupofolha.com.br MATIAS SPEKTOR

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