Folha de S.Paulo

255 por pessoa, incluindo barracas, campings, equipe médica, refeições. Há abertura para não acadêmicos.

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Cinquenta anos após a morte de João Guimarães Rosa, cravada no dia 19, o sertão está bem diferente daquele que o escritor conheceu em cavalgadas por Minas e que retratou em “Grande Sertão: Veredas” e outros livros. O agronegóci­o avançou, a mata original foi confinada.

Aindaéposs­ível,porém,encontrar os contadores de história que Guimarães condensou na voz de Riobaldo, protagonis­ta da obra. Essa é uma impressão da sobrinha do autor, a documentar­ista Juliana Dametto Guimarães Rosa.

Ela dirigiu e roteirizou, com Alexandre Roldão, “Sertanias”, documentár­io sobre trecho do sertão que coincide com parte do espaço geográfico retratado na obra do tio.

Fica no norte de Minas. A rota de 178 km percorrida por eles em uma semana parte de Sagarana, um vilarejo, e sobe até encontrar o Parque Naci- Um dos principais rios da região; a expedição atravessa ele de balsa Também é um distrito de Arinos, pequena vila que historicam­ente serve como entreposto comercial da região Pequeno produtor de agricultur­a familiar, produz 34 tipos de mandioca; fica em uma estrada em direção ao distrito de Igrejinha Dona Geralda, 76, é uma moradora antiga da região e contadora de histórias; sua casa fica nesta fazenda onde um dia pensou-se em construir uma cidade projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer onal Grande Sertão: Veredas, passando por áreas de cerrado e formações como o Vão dos Buracos, passagem estreita entre duas paredes rochosas, de piso escorregad­io, descreve Dametto. O trajeto in- clui paradas para discutir e declamar Guimarães.

“A gente passa por áreas preservada­s. O que é uma raridade, porque por ali o agronegóci­o está a todo vapor. A gente encontrou paisagens superbonit­as, de tirar o fôlego. Mas são difíceis de encontrar. Tem que andar muito.”

A expedição que ela acompanhou formou-se com 75 caminhante­s selecionad­os pelo programa “O Caminho do Ser- Ali é possível ver o encontro do Ribeirão da Areia (de água clara) com o Ribeirão da Aldeia (de água escura), um dos lugares por onde Riobaldo, protagonis­ta do livro, passa É um distrito de Chapada Gaúcha; aqui começam os trajetos por áreas de preservaçã­o ambiental do Cerrado, com paisagens de chapadas e veredas Fica em uma comunidade Quilombola; a expedição passa a noite ali, depois visita outras residência­s; é o início de uma subida chamada Vão dos Buracos, formação rochosa caracteriz­ada por um corredor; também está no livro, tem tom de areia dourado, piso escorregad­iço Cidade que foi colonizada por população do Rio Grande do Sul e que vive do agronegóci­o tão”, subsidiado por ONGs da região em parceria com a pasta estadual de Cultura de MG.

O passeio é dedicado a quem já desenvolve­u alguma relação de pesquisa com a obra de Guimarães e custa R$ JAGUNÇOS O documentár­io costura depoimento­s de expedicion­ários e pessoas da região. Uma entrevista­da compara os bandos retratados por Guimarães e aqueles que ainda trabalham armados. “Jagunços existem até hoje para impor a força do latifúndio e do proprietár­io da terra”, diz a geógrafa Cida Miranda. Sua família é da região e seu pai foi assassinad­o em 1985 por um fazendeiro.

Tambémháde­poimentode uma professora, Rosa Amélia Silva. Ela conduz programa para levar a literatura de Guimarães à população local.

Conta Juliana, Rosa chegou achando que todo mundo ali sabia quem era o autor. “Tem o nome dele em placa de estrada. Guimarães está presente em homenagens públicas”, diz. Algumas respostas, porém, vinham em forma de questões: “É um fotógrafo? Dentista? Coronel?” NA TV Sertanias estreia no sáb. (18), às 20h30, na GloboNews livre

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